Em razão de influências e vertentes a música segue uma dinâmica na qual uma banda pode e deve naturalmente soar como outras. Portanto, ao esmiuçar sob a ótica deste viés, podemos dizer que o diferencial se dá pelo resultado final das canções, assim, os brasilienses da Scalene, que tem em seu leque de influências grupos que atingiram a notoriedade como Queens of The Stone Age, Them Crooked Vultures e Muse, além da referida inspiração, alcançaram em “Éter”, seu novo disco, mais um estágio de maturação e evolução.

Durante a audição de “Éter”, fica evidente que a Scalene ampliou suas fronteiras. É fácil observar também que o novo álbum tem uma ligação com o ótimo Real/Surreal (2013). Não se trata de uma continuidade direta, fica evidente que a sonoridade apresentada por Gustavo Bertoni (guitarra e voz), Tomas Bertoni (guitarra), Lucas Furtado (baixo) e Philipe “Makako” (baquetas e vocal) no CD de estreia se expandiu com vigor, e tal qual um gás volátil, resultou em viciantes elementos que elevam “Éter” ao status de pequena obra prima.

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Da natureza das canções, podemos identificar cada uma das qualidades da Scalene, como o belo vocal cadenciado, a leveza singular e/ou a força do peso. Cada faixa de “Éter” carrega em seu âmago composições com uma porção de camadas harmônicas, permeadas por elementos sombrios ou acordes deliciosos que lembram uma trilha sonora, sempre em conjunto com letras repletas de poesia.

O álbum abre com Sublimação e um poderoso alerta: tantos padrões e imposições afastam de encontrar nossa própria essência. Uma deleitável orgia de sons e riffs com direito a um admirável coro. Em seguida temos em O Peso da Pena, a primeira pancada do disco que divaga sobre as confabulações do destino e da própria existência. Acelerando como se estivessem em uma competição automobilística, a próxima da tracklist é Histeria, que demonstra mais uma vez a brutalidade singela da banda – e devo assumir que fiquei ansioso para escutá-la ao vivo –, pois sua audição transmuta do estado da calmaria até a explosão; ouça com zelo, chegue ao limite combinado dos arranjos e frases como: um pouco mais de perto, sua essência tocar, de olhos abertos deixa eu lhe devorar.

Na sequência a bela Fogo, escute com atenção, pois garanto que não é falácia, é comprovado, tal qual posso afirmar que “Éter” só está esquentando. O som seco e abafado de Gravidade nos abraça e tem a chave que mantém a lucidez. Durante Furacão, somos presentados com uma linda linha de guitarra e um admirável acompanhamento percussivo.

Em Terra a viagem continua, na execução de Náufrago aceleramos nossa percepção para chegar a Alter Ego, o momento mais Them Crooked Vultures do álbum.

A derradeira e quarta trinca de “Éter” se aproxima, após a ritmada Tiro Cego, temos Loucure-se, um petardo que grita: quem vive sem loucura não sabe o que é ter o real livre arbítrio, e a jornada vai chegando ao fim com Legado, um música que pulsa com o instrumental adjacente ao nosso coração.

Além do grupo de moléculas orgânicas voláteis, a palavra éter também tem em sua historicidade o conceito grego de ser um fluido rarefeito que recheava todo o espaço e envolvia a terra. Assim, “Éter” o prazeroso álbum da Scalene se encaixa perfeitamente em qualquer uma das duas definições, pois é totalmente inflamável, bem como preenche, ativa e conecta todas as sinapses do ouvinte. Éter é um elixir e #músicaparaosouvidos

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A produção do disco ficou a cargo da dupla Diego Marx e Lampadinha e a elogiada capa do disco é assinada por Frederico Félix, uma bela arte em 3D que ajudou a complementar o clima abstrato que o disco “Éter” propõe. Para divulgar o CD que será lançado oficialmente no dia 19 de maio, os singles “Legado” e “Histeria” podem ser adquiridos na pré-venda do álbum via iTunes. Inclusive o clipe da faixa “Legado” já pode ser conferido – assista abaixo –.

Formada em 2009, a Scalene – que lembra muito a trajetória da banda britânica Muse, inclusive pela qualidade –, vive em 2015 um grande momento, além do lançamento de um grande disco, está cotadíssima para vencer o Superstar da Rede Globo – programa dominical que revela artistas – e participaram de dois grandes festivais, o Lollapalooza Brasil e o South by Southwest (SXSW), no Texas, Estados Unidos. #brasiliacapitaldorock

A cópia de “Éter” para confecção da resenha foi cedida gentilmente com exclusividade pela banda.

Site oficial: bandascalene.com.br

Vídeoclipe da canção “Legado”.