Um Tributo Detalhado e Eletrizante à Banda Pioneira do New Romantic Brasileiro

Olá, rockers! Se vocês viveram a efervescência do rock nacional nos anos 80 ou são fãs de carteirinha daquela década de ouro, preparem-se para uma viagem no tempo! Já está disponível para compra (em formato físico e em e-book) um livro que promete ser um verdadeiro mergulho no universo de uma das bandas mais respeitadas e queridas daquela cena: o ZERØ, liderado pelo carismático Guilherme Isnard. Em “Zero: Heróis + Passos no Escuro”, o autor Marco Briones nos entrega um relato minucioso que vai muito além de uma simples discografia, se tornando um tributo literário à altura da importância do grupo.

Não é só um Livro, é uma Investigação Rocker

Marco Briones acerta em cheio ao tratar a história do ZERØ com a seriedade e paixão que ela merece. Longe de ser apenas mais um compêndio de datas e lançamentos, a obra se revela fruto de uma pesquisa profunda, quase detetivesca. Briones analisa com lupa cada passo inicial da banda – do compacto seminal “Heróis/100% Paixão” à participação em “Caim e Abel” com May East, culminando, claro, no antológico EP “Passos no Escuro”. Mas o diferencial está no como essa história é contada.

O autor teve acesso aos arquivos e as memórias de quem viveu presenciou tudo de perto: músicos, produtores, fotógrafos, fãs e familiares, que concederam depoimentos e materiais inéditos. O resultado é um painel riquíssimo, salpicado de referências técnicas (sim, tem papo sobre timbres e mixagens para os mais nerds!), curiosidades de bastidores, anotações de estúdio, tabelas de gravação, recortes de jornais e flyers da época. É, sem dúvida, um prato cheio para os aficionados por detalhes e pela estética P&B dos bastidores do rock oitentista.

Da Cena Carioca à Vanguarda Paulistana (e a Conexão Brasília!)

O livro também faz um trabalho excelente ao situar o ZERØ dentro do contexto maior do rock brasileiro. Aprendemos sobre a trajetória inicial de Guilherme Isnard, carioca que flertou com a música desde cedo ao lado de amigos como Lobão e Angela Rô Rô, mas que encontrou seu caminho profissional no mundo da moda, trabalhando para grifes como Yes Brazil e ZOOMP. Sua chegada a São Paulo em 1978, e a frustração posterior com o cenário paulistano após passagens por bandas como Voluntários da Pátria (que Isnard achava desorganizado e amador), são pontos cruciais para entender sua motivação em construir algo sólido.

O ZERØ não nasceu no vácuo. O livro retrata as dificuldades da cena rock no início dos 80 – o preconceito contra o “rock gaiato” carioca, a falta de infraestrutura e locais para tocar (Madame Satã, Carbono 14, Rose Bom Bom, Napalm eram as raras exceções). E nesse ambiente, o ZERØ, que transitava entre o pós-punk do início (vindo do grupo Ultimato) e o New Wave, a banda se destacou. Briones mostra como a banda desfilava ao lado de nomes como Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial, compartilhando o frescor daquele momento. Aliás, a conexão com Brasília é destacada, com shows memoráveis ao lado do “triunvirato” brasiliense e a acolhida de Isnard aos músicos em São Paulo, evidenciando a importância e o respeito que o ZERØ conquistou.

Os ‘Passos no Escuro’ para o Sucesso

A obra detalha a gênese da banda sob a liderança de Isnard: desde a escolha estratégica e enigmática do nome “Zero” – inspirada em Sting, da banda “The Police”, e na ideia de ser universal e um ponto de partida – até a busca pela sonoridade ideal e, claro, a obsessão de Isnard pela qualidade das letras. O livro revela que o vocalista não tolerava clichês ou rimas fáceis, sempre cobrando um “toque literário” nas composições.

O ponto alto dessa narrativa é, sem dúvida, a chegada da formação “clássica” (após a dissolução da original em 1985, que gerou outras bandas importantes como Violeta de Outono e Nau) e a gravação do EP “Passos no Escuro”. Briones nos leva para dentro do estúdio Quadrophenia, onde ensaiavam (dividindo espaço com o Metrô!), mostra como clássicos como “Cada Fio um Sonho” e “Formosa” nasceram (com direito ao riff “chinesinho” de Eduardo Amarante e à bateria eletrônica “Jorge”!), e narra a surpresa com o convite para gravar o EP, a estadia no Rio (Hotel Othon), as tensões com o produtor inicial e a parceria com Mayrton Bahia.

E as histórias de bastidores? São um capítulo à parte! O livro narra a chegada dos teclados de Freddy Haiat, as noitadas para “tirar a melhor pista” e, em especial, a curiosa participação de Paulo Ricardo, do RPM (que ainda não havia “explodido” quando o ZERØ gravava o EP, mas já era um fenômeno no lançamento). O livro apresenta as duas versões da história – o convite de Freddy ou a iniciativa de Paulo Ricardo – e explica como essa participação, vista como um “casamento de conveniência” por Freddy, acabou impulsionando “Agora Eu Sei” ao sucesso e se tornando o grande hit. Isnard, por sua vez, sempre valorizou as apresentações ao vivo, encarando-as como um trabalho estético, onde a presença de espírito e o espetáculo são tão importantes quanto a música – considerando que não há droga melhor do que o aplauso do público.

Um Tributo que Vale a Pena Cada Página

“Zero: Heróis + Passos no Escuro” não é apenas um livro para fãs do ZERØ; é uma leitura essencial para qualquer pessoa interessada na história do rock brasileiro. Marco Briones consegue equilibrar a análise crítica e a riqueza de detalhes com um texto leve, envolvente e cheio de alto-astral. As anedotas – como a origem misteriosa e debatida do nome “Zero” ou os rascunhos de letras rabiscados – dão um tempero saboroso à leitura.

Ao resgatar da poeira os arquivos da banda de 1981 a 1986, Briones nos mostra que a trajetória de Guilherme Isnard e seus parceiros é tão complexa, fascinante e cheia de nuances quanto as canções que marcaram uma geração. Ele expõe as influências (de Duran Duran e Tears for Fears até covers de Beatles, RPM, Finis Africae e Bryan Ferry nos shows!), os desafios superados e a genialidade por trás da “elegância sonora e de composição” que a demo da banda já revelava.

Ao terminarmos a leitura da última página, fica a certeza de que “Zero: Heróis + Passos no Escuro” cumpre o que promete. É um tributo literário caprichado a uma banda que foi pioneira, talentosa e deixou sua marca indelével no rock nacional. Uma viagem divertida, informativa e, para usar as palavras do texto, que vale “cada passo no escuro”.

Nota: 🤘🤘🤘🤘🤘 (5/5 Rockers!)

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