Com a produção “Todo o Dinheiro do Mundo”, lançada em 2017, o diretor Ridley Scott estrategicamente mirou premiações como o Globo de Ouro e o Oscar. Estrelado por Mark Wahlberg, o filme que estreia nesta quinta (1) em todo o Brasil, narra o sequestro de John Paul Getty III, neto de J. Paul Getty, o primeiro homem na face da terra – graças à extração de petróleo – a acumular a fortuna de US$ 1 bilhão.

Sequestro: uma temática pesada, que fica ainda mais angustiante quando conhecemos a figura avarenta, mesquinha, miserável, sovina e qualquer outro adjetivo que o valha para definir Sr. Getty, o bilionário avô do rapaz enclausurado. Em um dos momentos mais dramáticos, em que se tenta convencer o velho a pagar o resgate, ele diz com naturalidade: “Tenho 14 netos. Se eu pagar, terei 14 netos sequestrados.”

Vale lembrar que “Todo o Dinheiro do Mundo” tornou-se vitrine por um motivo, e em um aspecto isso não foi bom, pois atraiu muitas pedras. Tudo começou com uma acusação de assédio sexual ao ator Kevin Space, forçando Scott a substituir o ator pelo veterano Christopher Plummer, o que acabou sendo bom, pois graças à atuação de Plummer, o filme conquistou sua única indicação ao Oscar, na categoria de melhor ator coadjuvante. No Globo de Ouro, a produção teve melhor sorte, além de melhor ator coadjuvante, acabou sendo indicada também para melhor diretor e para melhor atriz coadjuvante, a talentosa Michelle Williams.

Esta substituição gerou um problema, várias cenas que envolviam a trinca Mark Wahlberg (Fletcher Chase), Christopher Plummer (J. Paul Getty) e Michelle Williams (Gail Harris) tiveram que ser refeitas. A polêmica deu-se, porque para estas regravações, a atriz Williams, recebeu cerca de US$ 1 mil, enquanto o ator Wahlberg – favorecido pela ausência de Space, tornou-se o único grande nome no cartaz –, auferiu o montante de US$ 1,5 milhão. Ativistas pela igualdade entre homens e mulheres exigiram um posicionamento da produção e dos envolvidos, o desconforto da repercussão negativa foi tão grande, que Wahlberg anunciou a doação de seu cachê ao movimento Time’s Up, que luta contra o assédio.

Tecnicamente, “Todo o Dinheiro do Mundo” tem seus destaques, a direção de arte em conjunto com a fotografia recriam com beleza e maestria a Roma de 1973. A trilha sonora contribui com o diretor Scott para a maior falha do filme: a falta de tensão. Quando você acha que será arrastado por uma onda de aflição, esta se torna uma marola e novamente nos tornamos meros espectadores. O filme nos deixa mais inquieto pelos defeitos do Sr. J. Paul Getty (Plummer), do que pela preocupação com a mãe, Gail Harris (Williams) ou com John Paul Getty III (Charlie Plummer), que passou cinco meses em posse dos sequestradores.

A expressão ‘baseada em fatos reais’ é honesta, a produção é literalmente fundamentada na realidade, existem muitas diferenças, principalmente no desfecho. A título de curiosidade, após conferir “Todo o Dinheiro do Mundo”, aconselho ir ao ‘pai’ Google para conferi-las.

O lendário diretor Scott não perdeu a mão para realizar filmes unânimes em elogios, apenas escolheu desvios na rota. Mirando o Oscar, “Todo o Dinheiro do Mundo” errou o alvo, mas está longe de ser ruim, pelo contrário, por vários aspectos e qualidades, merece uma chance. Confira!

Nota: 7.0

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