Finalmente “Duna” (2021) estreia em todo o mundo. A produção que enfrentou seguidos adiamentos em razão da pandemia, sofreu também com a queda de braço entre o diretor Denis Villeneuve e a Warner Bros que queria exibi-lo simultaneamente nas salas de cinema e na HBO Max, o streaming dedicado da produtora.
Será que Villeneuve, após uma polêmica recheada de palavras mal ditas, embaraços e inconvenientes entregou um bom filme, provando seu ponto de vista na luta contra a exibição em streaming?
É notório que o mercado literário oferece obras que rendem boas adaptações cinematográficas, geralmente, o difícil é conquistar fãs xiitas que tem dificuldade em entender a necessária diferença entre uma releitura audiovisual e as narrativas que preenchem páginas.
Provavelmente, o “Duna” de Villeneuve é o filme mais esperado do ano, pois temos o hype gerado pelo prestígio e a notoriedade do diretor que tem em seu currículo produções elogiadas: “Incêndios” (2010), “Os Suspeitos” (2013), “Sicario: Terra de Ninguém” (2015), “A Chegada” (2016) e “Blade Runner 2049” (2017), somado ao da adaptação de uma celebrada obra homônima, escrita pelo americano Frank Herbert, no ano de 1965.
O Duna de Herbert entre pesquisa e escrita levou seis anos para ser publicado, e foi celebrado por ser o primeiro romance, no gênero da ficção científica, a conceber vários temas inter-relacionados, explorando diversos pontos de vista entre personagens, qualidades que o levou a vencer em 1965, o prêmio Nebula, e em 1966, o prêmio Hugo.
Com o início das filmagens em março de 2019 e locações na Hungria, Jordânia e Noruega, esta é a terceira adaptação desta obra; as outras duas foram o filme Duna de 1984, dirigido por David Lynch, e uma minissérie de 2000, produzida pelo Sci-Fi Channel.
Em um roteiro carregado de política, temas religiosos, a preocupação com o meio ambiente e a dor da opressão pela ótica dos oprimidos e rebeldes, “Duna” apresenta também um duelo entre ‘casas’, que me lembrou alguns momentos da épica série “Game of Thrones”. Infelizmente, assumo que não sou profundo conhecedor da obra original escrita por Herbert, sendo assim, posso versar apenas sobre o plot presente, em que acompanhamos a evolução de Paul Atreides (Timothée Chalamet), em meio ao conflito nevrálgico no planeta Arrakis, que recebe a alcunha de duna graças à sua geografia desértica. Acredite, caso você não tenha lido o livro, busque o mínimo possível de informações, surpreenda-se!
Além de Chalamet, “Duna” nos presenteia com um elenco de peso: Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Josh Brolin, Stellan Skarsgård, Dave Bautista, Zendaya, David Dastmalchian, Stephen Henderson, Charlotte Rampling, Jason Momoa e Javier Bardem, dão sustentação à ótima história escrita por Eric Roth, Jon Spaihts e pelo próprio Villeneuve.
Não é novidade que Villeneuve porte uma privilegiada visão cinematográfica, e que frequentemente entregue conjunções maravilhosas entre bons roteiros e imagens estonteantes. Claro que a estética e o profissionalismo do diretor sejam facilitados pelo aporte de excelentes profissionais, arrisco-me a dizer que durante a premiação do Oscar 2022, “Duna” deve abocanhar a maioria dos prêmios técnicos, a fotografia por Greig Fraser; os efeitos sonoros, visuais e especiais; e a direção de arte deixam qualquer um estupefato, graças a uma bela representação de mundos, de vermes subterrâneos e no design de belíssimas naves, bem como a trilha sonora composta por Hans Zimmer, sem dúvidas, um dos melhores no trabalho deste mestre. Caso você tenha escolha, recomendo que o assista no melhor cinema da cidade, pois o tamanho da tela e a qualidade do som farão a diferença contribuindo com a imersão.
Mas é preciso fazer um alerta, é notório que o andamento das produções dirigidas por Villeneuve sofrem uma forte influência de obras cinematográficas de décadas como as de 70 e 80, significando que a sétima arte praticada atualmente prestigia gerações que se acostumaram com narrativas aceleradas, enquanto Denis faz o contrário, investe na cadência e em explicações necessárias para contar uma boa história. A duração aproximada de 2h30 sem os créditos no meu estado de fruição, passaram rapidamente.
A vida no cinema não seria completa sem diretores visionários e autorais, sendo assim, espero que Villeneuve consiga aparar as arestas do seu comportamento e obtenha uma excelente bilheteria para que a Warner dê o sinal verde para a segunda e derradeira parte. Faço coro com a frase “Sonhos são mensagens das profundezas”, dita pelo protagonista, afinal, tenho o sonho profundo em testemunhar como essa história acaba. Dona Warner, ajuda aí!
Em tempo: Jason Momoa pode pedir música fantástico, finalmente após tantas obras ruins em sua filmografia, conseguiu completar seu terceiro filme bom. Aleluia!
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