Neste 12 de maio, estreia nas salas de cinema de todo país a produção “O Homem do Norte”, dirigida pelo norte americano Robert Eggers, profissional que tal qual Ari Aster, diretor de “Hereditário” (2018) e “Midsommar” (2019), tem transitado no mundo do 08 ou 80, resumindo: a plateia simplesmente ama ou odeia.

Antes de tudo, preciso dizer que a nova obra de Eggers, está sendo vendida por alguns da forma errada, “O Homem do Norte” está longe de ser um filme de ação, trata-se de um drama que foca em temas como vingança e a jornada do autoconhecimento. Este equívoco pode ser o fator principal para que o longa-metragem não tenha tido bom desempenho nas bilheterias.

O universo do talentoso Eggers, que conta com os celebrados “A Bruxa” (2015) e “O Farol” (2019), tem em sua filmografia a adição de “O Homem do Norte”, mais uma obra estonteante visualmente, graças a efeitos especiais, fotografia, direção de arte e desenho de produção caprichadíssimos, onde podemos citar também inebriantes efeitos sonoros. Infelizmente, por ter sido lançado no primeiro semestre de 2022, corre o risco de ser esquecido na elaboração da lista de nomeações para a premiação no Oscar.

Curiosamente, em entrevista recente ao The Guardian, o diretor confessou que não suporta assistir “A Bruxa”, pois acredita que embora a produção não seja ruim e tenha ótimas atuações, como cineasta, não tinha habilidade suficiente para retratar em tela o que estava em seu cérebro, essa qualidade foi atingida em “O Farol”, e tem orgulho por “O Homem do Norte”, que chega perto ao que foi imaginado. Como sou fã, não vejo a hora de testemunhar qual será a visão de Eggers para o clássico Nosferatu.

A capacidade autoral do diretor em criar e/ou ambientações, prendendo-se a detalhes é um presente ao espectador, que percebe o quanto todo esse esmero e esforço promovem um delicioso deleite cinematográfico. A pesquisa histórica do realizador é tão particular e eficiente que além da cultura e mitologia nórdica do século X, com suas simbologias, vestimentas, utensílios, modos e costumes medievais, até o esporte nos é apresentado.

O roteiro visceral escrito por Eggers e Sjón — o mesmo do elogiado “Lamb” (2001) —, adaptou a lenda de Amleth, príncipe nórdico que escapou de um massacre quando criança e cresceu com o propósito da vingança. O texto do século X serviu como inspiração direta para o clássico Hamlet de William Shakespeare.

Vale dizer que de forma acertada, “O Homem do Norte” não suaviza em relação a temas comportamentais à época que o filme se passa. Atualmente, longas-metragens com temáticas ‘espinhosas’, independente do período histórico que retratam, sofrem com adaptações que abrandam o texto no intuito de agradar um novo público que frequenta as salas de cinema, que é um equívoco, por mais que doa ver em tela algumas representações, sou dos que acreditam que os erros e absurdos devem ser expostos para que não sejam repetidos.

Para pessoas sensíveis, a produção pode gerar desconforto, pois não economiza na violência gráfica, apresentando inclusive mutilação. Quem assistiu as obras de Eggers, sabe que o diretor não se esquiva da obrigação em cooptar o espectador, que ao questionar a sanidade dos personagens, pode cair na armadilha de indagar a própria saúde mental.

Durante aproximados 2h17, abracei a trajetória imersiva em um mundo crível viking, com o elenco afiado de nomes como Alexander Skarsgård, Nicole Kidman, Anya Taylor-Joy, Claes Bang, Willem Dafoe, Ethan Hawke e Björk contribuindo para garantir que a performance de “O Homem do Norte” seja excelente. Ah! Como é bom não termos mais um vilão falastrão ou burro.

Brutal, envolvente e inesquecível, “O Homem do Norte” sem dúvida é uma das melhores experiências cinematográficas do ano, e o ingresso vale cada centavo do seu suado e desvalorizado real.

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