Eu costumo responder, para aqueles que me perguntam por que o rock é tão importante para mim, que eu me sinto leve quando escuto uma porrada sonora. As caras de espanto são nítidas, mas quem sabe hoje, Dia Mundial do Rock, aqui nesse blog, eu consiga me fazer entender melhor:

O rock traz em si um diferencial em relação a outros estilos: não é apenas música, é um modo de vida. E não é qualquer vida, é uma vida outsider, seja à margem da sociedade, seja para transformá-la, zomba-la ou curti-la, simplesmente. Dificilmente alguém que curte rock de verdade é alienado, pobre intelectualmente ou vazio de sensibilidade. Exceções há, em todo lugar. Mas faça uma análise entre os seus amigos e parentes. Verá que a quase totalidade é composta, entre os roqueiros, de gente de bem, crítica e autocrítica.

Há mais: o rock, por sua contundência sonora e lírica, é um estilo por natureza questionador, atrevido, provocador, até. E não sei quanto aos demais, mas isso me dá um tesão desgraçado de bom. Esse mundo de hoje, em especial, é do asqueroso “politicamente correto”,  da “bundamolice”, do conformismo. E esses termos são tudo ao que o rock não se aplica. Vertentes? Há várias, do pop ao thrash, da new wave ao hardcore, do eletrônico ao punk, do gótico ao heavy. Uns até rivalizam entre si, mas no fundo, no fundo, todos têm a mesma essência: não estamos aqui para passar batidos pela sociedade.

Não remexemos bundas, mas cérebros; não compomos à beira da piscina com copos de whisky na mão, mas nos guetos, com qualquer álcool que nos caia nas taças de geleia; não vestimos roupas de marca, mas as mais surradas camisetas; não somos a nata do lixo, nem o luxo da aldeia, mas o lixo luxuoso da nata intelectual da aldeia; não costumamos ter coreografias prontas, a não ser o balançar das cabeças e o ritmar dos pés acelerados; normalmente não somos preconceituosos, mas não nos furtamos à defesa de nosso som; não somos fáceis, mas não somos tão complicados como nos veem; somos, enfim: autênticos.

E por mais que haja quem queira acabar com a estirpe do rock’n’roll com uma popularização alienante, ou campanhas de comercialização da atitude, ou ainda uma massificação da figura roqueira, não adianta. Enquanto houver um grupo de três pessoas sacudindo a cabeça ao som de um baixo, uma bateria e uma guitarra, o espírito juvenil e debochado do rock não morrerá. E os cérebros continuarão sacudindo, em vez das bundas.