Um dos melhores espaços para shows de Brasília, a Concha Acústica, está há dois anos totalmente abandonada. O palco, que antes era frequentado por grandes nomes da música, hoje tem uma artista principal, o mato. Para se ter uma idéia, um rápido passeio pelo espaço de 8, 4 mil metros quadrados é mais do que suficiente para ver as calçadas de pedras portuguesas quebradas, os bancos cheios de capim e fiação elétrica destruída. Nas paredes do palco, rachaduras enormes. Ao redor, a situação é ainda pior, com quiosques depredados por vândalos. Para se ter uma ideia do tamanho do descaso do poder público com o espaço, a última reforma completa realizada no lugar, aberto em 1969, ocorreu há 12 anos. Mais ou menos o mesmo período de tempo que o Projeto Orla, esboço de revitalização do local, está engavetado. Mas é bom lembrar também que boa parte da culpa é da população que depreda o patrimônio público.
Em 2004, Rita Lee um dos últimos shows ocorridos na Concha. Inclusive o lançamento do DVD da Plebe Rude estava inicialmente marcado para o local, mas devido ao estado do lugar o grupo desistiu. Ficou como opção a Ermida Dom Bosco.
Segundo o secretário de Obras, Márcio Machado, a licitação para o início das obras de recuperação já foi aprovada. A revitalização urbanística está a cargo do GDF, orçada em R$ 5 milhões e os empreendimentos são da iniciativa privada. O problema é que a reforma pode até sair, mas como é de costume aqui no Brasil, a reforma sai e depois ficamos mais 12 anos ou mais sem nenhum tipo de reforma ou até mesmo melhoria.
O Projeto Orla foi idealizado em 1996.Visa dar vida às margens do Lago Paranoá com a criação de 11 pólos culturais que democratizariam o acesso ao espelho d’água. A Concha Acústica está inserida no terceiro pólo. A princípio, a ideia seria a construção de píeres, hotéis, restaurantes, bares, museus, cinemas, centros tecnológicos e quiosques. Mas até agora pouca coisa saiu do papel. Dos 11 setores, o único que saiu da teoria foi o Pontão do Lago Sul, inaugurado em 2000. Um dos principais obstáculos para a colocada em prática do projeto, sem dúvida nenhuma, é o fato de que várias residências que se situam à beira do lago, tomaram conta de suas margens, invadindo assim área pública. Quer dizer, é a privatização do que é público com a mais intensa expressão do individualismo urbano. É o individual acima do que é público. Se esquecem estas pessoas que todos perdemos com isso, porque a cidade perde com isso. Com mais lazer e atrações culturais, a cidade perde turismo e consequentemente perde dinheiro e empregos. Isto sem falar nas opções que nós brasilienses passamos a ter a menos.
Em 74, a concha foi palco de um casamento hippie. Como a vida cultural da cidade ainda era tímida, o encontro acabou se tornando um grande acontecimento. Nos anos 1980 e 1990, artistas como Arnaldo Antunes, Djavan, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Nando Reis e bandas como Capital Inicial e Pato Fu, marcaram presença num dos principais cartões-postais da cidade.
Ainda em 1998, a Concha Acústica abrigou a primeira edição do Porão do Rock, reunindo mais de 10 mil pessoas. No ano seguinte, um público três vezes maior assistiu, extasiado, a volta da banda Plebe Rude. Outro festival abrigado pelo espaço, em 2005, foi o É Claro que é Rock, trazendo como principal atração a banda britânica Placebo. Dois anos depois foi a vez dos argentinos do Gothan Project emocionarem os brasilienses. O grupo brasiliense Zaktar, constituído por músicos com necessidades especiais, fez o último show da Concha antes de sua interdição pela Secretaria de Obras.
Abraços a todos;
Carlos Henrique.