Por Cristiano Porfírio

Mais de quatro décadas após a estreia de Tron (1982), a lendária franquia retorna aos cinemas com Tron: Ares, dirigido por Joachim Rønning. A superprodução aposta pesado no impacto visual e na trilha sonora para reconquistar seu público — mas deixa brechas narrativas que impedem o longa de atingir todo o seu potencial.

A experiência em IMAX 3D é arrebatadora. Os cenários digitais, os contrastes neon e os efeitos visuais elevam o legado estético da franquia, entregando uma imersão que realmente faz o espectador se sentir dentro do Grid. A trilha sonora assinada por Nine Inch Nails (Trent Reznor e Atticus Ross) intensifica cada cena, criando uma simbiose entre som e imagem que remete ao impacto que Tron: O Legado (2010) causou há 15 anos.

A trama acompanha Ares (Jared Leto), um programa digital que atravessa a fronteira entre mundos. A proposta filosófica — inspirada em Pinóquio — é potente, sobretudo no contexto atual de debates sobre inteligência artificial. No entanto, o roteiro opta por caminhos seguros e pouco ousados. Em vez de mergulhar profundamente nesses dilemas, o filme prefere sugerir reflexões, sem desenvolvê-las de forma memorável.

O elenco, que também conta com Greta Lee, Evan Peters, Gillian Anderson e Jodie Turner-Smith, tem energia e presença em tela — mas nem sempre dispõe de material para construir personagens realmente complexos.

Referências visuais e narrativas piscam para os fãs veteranos, incluindo o retorno de Jeff Bridges. Porém, a linha entre homenagem e dependência é tênue, e Tron: Ares nem sempre a cruza com segurança. Falta a ousadia que fez do Tron original um marco.

A recepção morna nas principais plataformas reflete esse contraste: 57% de aprovação no Rotten Tomatoes e 49 pontos no Metacritic indicam que, embora o espetáculo técnico seja reconhecido, há frustração quanto à densidade narrativa.

Como espectador, é difícil não se impressionar com o que vejo e ouço em Tron: Ares. Mas ao sair da sessão, ficou uma lacuna: a sensação de que o filme poderia ter ido além. Ares levanta dilemas urgentes — IA, humanidade, ética —, mas os trata como pano de fundo, não como motor da história. É bonito, é intenso… mas não é inesquecível.

🧠 Curiosidades

  • O diretor Joachim Rønning acompanhou de perto o avanço da IA durante a produção, influenciando debates de bastidor.
  • Ares foi concebido como uma metáfora moderna do Pinóquio.
  • A trilha sonora é apontada como um dos pontos altos da produção.
  • A exibição em IMAX 3D foi amplamente recomendada pelos críticos.

⚡ Para arrematar

Tron: Ares reafirma o domínio visual e sonoro da franquia, mas deixa a desejar quando se trata de narrativa e emoção. É uma obra feita para ser sentida na tela grande — mais um espetáculo de luzes e sons do que uma experiência transformadora. Para fãs de longa data, é um reencontro. Para quem busca densidade, talvez soe como promessa não cumprida.