Alguém se lembra do símbolo da inflação, aquele dragão cuspidor de fogo que atormentou o país durante décadas? Se não lembra, é porque vivemos hoje sob um regime econômico estável, com maior disponibilidade de crédito (ainda que a um custo alto) e com cenário econômico externo positivo. Neste cenário atual, a tendência seria de crescimento ecônomico e conseqüente redução das desigualdades. Como o Brasil quase sempre anda na contramão em relação ao resto do mundo, não seria estranho ver e ouvir as notícias que circularam na imprensa esta semana. O governo teve informações de órgãos ligados à área econômica (IPEA – Instituto de Políticas Econômicas Aplicadas, órgão subordinado ao Ministério do Planejamento) que o acesso ao crédito à população teve um aumento sigificativo de aproximadamente 29% no ano de 2007 comparado a 2006.
No entanto, esta notícia, que seria motivo para comemoração por parte do governo agora é motivo de preocupação. Com este crédito farto ficou mais fácil se endividar, comprar bens e até serviços através dos financiamentos em bancos e financeiras. As vantagens são muitas, como comprar um automóvel em até 100 meses ou até ovos de Páscoa em 12 vezes sem juros, tornando-se acessível até para as classes C, D e E, com aumento do consumo de produtos outrora supérfluos.
Por outro lado, este aumento do consumo implicaria diretamente no aumento da produção industrial brasileira para suprir a demanda. Contudo, muitos empresários não estão preparados para o aumento desta demanda, e conseqüentemente, isto acarretará no aumento de preços e alta da inflação. Outra alternativa para o aumento do consumo seria o aumento das importações para suprir o mercado interno.
Há especialistas que defendam que este cenário descrito acima não é totalmente desfavorável. O aumento das importações acarreta em melhoria dos produtos nacionais em decorrência da competitividade com os produtos importados. Além de que as exportações brasileiras não seriam afetadas diretamente, porque 80 % das exportações são de commodities, e seus preços são determinados mais por tendências internacionais (demanda de EUA e China, diminuição do subsídio por parte dos governos europeu e norte-americano) do que pelo mercado interno.
Na última reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central) foi determinado que se o crédito continuar em elevação, o BC intervirá com aumento da taxa básica de juros (taxa Selic) já relatado em ata como “possível surto inflacionário”. Eu, como cidadão, fico como uma nau à deriva durante uma tempestade. Pelo excelente momento financeiro que a maioria dos brasileiros vivenciam, vem à cabeça um pensamento shakesperiano: Comprar ou não comprar? Eis a questão.
O governo reclama que o brasileiro consome pouco, que deveria consumir como um americano. Entretanto, quando a economia começa a deslanchar, este mesmo governo segura o crescimento econômico com o aumento de juros e impostos no intuito de fomentar a gastança governamental.
Todos nós adoramos consumir, porém, estes parcelamentos absurdos fazem com que o salário no fim do mês seja exclusivamente para pagar dívidas. Um dia destes analisei as ofertas das Lojas Americanas e estavam com a abstrata parcela mínima de 1,00. As pessoas têm o hábito de se preocupar apenas com o valor das prestações, sem notar quantas são. Este comportamento fez com que determinados segmentos comerciais tivessem queda nas vendas.Comércios como padaria, farmácia, posto de gasolina, entre outros, não se beneficiam deste dinheiro oriundo do crédito farto, vivendo apenas do faturamento imediato, à vista.
O presidente Lula reclama que os empresários não querem investir na construção de novas fábricas. Ora, senhor presidente, não percebe que sem incetivar as empresas com redução de impostos, desoneração das folhas para contratação de novos funcionários, entre outros, não chegaremos aonde pretendemos? Aproximadamente 90 % das empresas no Brasil estão enquadradas como micro e pequena empresas, então, não adianta fazer acordos somente com os grandes, haja vista que são estas pequenas empresas que carregam o Brasil nas costas.
Fora o discurso panfletário empresarial que alguns dirão, este é mais um desabafo de um brasileiro no qual o único dragão que conheço é aquele da propaganda do antiácido. O dragão da queimação.
Abraços a todos : Danilo Duff.
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