Geralmente, não publico resenhas de filmes que já estrearam, mas abro aqui uma exceção para “A Hora do Mal“, dirigido por Zach Cregger.

Após impactar fãs de terror e suspense com “Noites Brutais” (2022), Cregger retorna com uma obra ainda mais ousada e fragmentada. A produção foge ao horror convencional ao dividir a narrativa em capítulos independentes que, pouco a pouco, se entrelaçam, conduzindo o espectador por um quebra-cabeça emocional e perturbador.

Cada segmento revela um ponto de vista distinto — da professora Justine (Julia Garner), fragilizada e atormentada pela culpa, ao pai devastado Archer (Josh Brolin), passando por um policial dividido entre dever e consciência, um dependente químico à beira do colapso e Alex (Cary Christopher), a única criança que não desapareceu em uma cidade assolada por um mistério sombrio.

Julia Garner entrega um desempenho carregado de tensão interna, enquanto Josh Brolin traduz a dor e o desespero com crueza e intensidade. Cary Christopher, apesar da pouca idade, impressiona com um olhar que transmite mais do que palavras poderiam dizer. Já Amy Madigan, como a enigmática Gladys, surge como uma das figuras mais inquietantes do cinema recente, mesclando manipulação e ritualismo em cada gesto.

A fotografia de Larkin Seiple transforma espaços comuns em ambientes sufocantes: corredores escolares tornam-se labirintos de ameaça e casas suburbanas assumem contornos claustrofóbicos. A trilha sonora minimalista, aliada a longos silêncios, constrói tensão sem recorrer a sustos fáceis — cada som, ou sua ausência, é calculado para incomodar.

O filme equilibra horror brutal e humor negro com precisão. Em alguns momentos, o riso surge como alívio; em outros, como distorção, intensificando o surrealismo. Há sequências memoráveis que impressionam tanto pelo choque visual quanto pelo desconforto psicológico.

Tematicamente, A Hora do Mal mergulha em trauma coletivo, pânico moral e na necessidade humana de encontrar sentido em eventos inexplicáveis. O desfecho, longe de oferecer respostas definitivas, mantém o público preso à inquietação — e é justamente essa recusa em fechar todas as portas que dá à obra sua força duradoura.

Com uma estreia sólida nas bilheteiras e aclamação crítica, Zach Cregger se consolida como um dos nomes mais criativos e ousados do horror contemporâneo. A Hora do Mal é mais que um filme: é um pesadelo moderno que continua a assombrar muito depois que a tela escurece. Imperdível!