Silvio, embora maestro de várias Orquestras Sinfônicas, adorava rock. Em seu currículo trabalhos com o guitarrista Kiko Perez, Fernanda Abreu, Renato Russo e o guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, que em seu blog afirma:
“Eu comecei a admirar muito o maestro por causa da sua postura em relação à música. Geralmente, grandes maestros não são favoráveis à junção da música erudita com outros estilos. Na verdade, existe um grande preconceito por parte deles. Muitos desprezam outras maneiras de expressão musical. O Silvio não. Ele era muito aberto a novos experimentos, mantendo a classe e a técnica da música erudita, mas sempre buscando novos caminhos. Ele me deixou muito a vontade e, apesar de ter sido a primeira vez que eu tocava com uma orquestra, estava muito confiante. Foi uma experiência inesquecível.”
Mas essa não era a única ponte que Silvio construia entre a música erudita e outros gêneros musicais. Barbato também tinha um trabalho com o Hip Hop. Essa aproximação entre gêneros musicais tão díspares – o mundo do hip hop e o da música erudita – foi justamente um dos maiores feitos de Barbato, o primeiro regente a conduzir uma orquestra com um DJ de hip hop.
Esse sincretismo cultural ele praticava com muita empolgação. Tanto que os DJ’s lançaram uma premiação com o seu nome. Uma pequena homenagem do ritmo a quem sempre o defendeu como cultura.
O maestro Silvio Barbato sonhava em montar uma ópera baseada na obra do roqueiro-poeta Renato Russo. Seria algo sinfônico, mas extremamente brasiliense. Planejava apresentá-la em 2010, por ocasião dos 50 anos da capital. Barbato era carioca, discípulo do maestro Claudio Santoro. Desde 1985 era Maestro Estável do Corpo Artístico do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde regeu as principais produções das últimas décadas. Mas tinha um pé em Brasília, onde dirigia e regia o SESC Sinfonia.”Ganhamos o mundo, mas morremos de saudade de Brasília. Me lembro dos conhaques que bebi com Renato Russo em Ipanema falando da cidade, da sua gente e de suas coisas. Era um discurso de saudade, e um pouco de desterro, de exílio mesmo.” contava. Tinha o sonho de gravar o projeto Renato Russo Sinfônico e de terminar a ópera que começaram a pensar juntos.
Ganhou vários prêmios nacionais e internacionais, entre eles o de Comendador da Ordem do Rio Branco, e a Medalha do Mérito Cultural da Presidência da República. No Teatro Nacional Cláudio Santoro completou nove temporadas como Diretor Musical. Com a Orquestra do Teatro, regeu concertos em Roma (Piazza Navona), Lisboa (Mosteiro dos Jerônimos), nos Teatros Municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro e em diversas capitais brasileiras. Suas gravações com a Orquestra incluem as Sinfonias Brasil – 500 Anos e os Clássicos do Samba, com Jamelão, Ivone Lara e Martinho da Vila. Na Itália, regeu em Roma, Catânia, Spoleto, San Remo, Palermo, Vicenza, Lecce. Dentre os artistas internacionais com quem trabalhou, destacam-se: Aprile Millo, Montserrat Caballé, Plácido Domingo, Roberto Alagna e Angela Gheorghiu. Trabalhou também na trilha sonora de diversos filmes. Foi premiado com o “Grande Prêmio Brasil de Cinema”, em 2001, na categoria de melhor trilha musical, com o filme Villa-Lobos uma Vida de Paixão. Havia recentemente terminado um trabalho em referência à Simão Bolívar, grande líder revolucionário e libertador do povo venezuelano.
No domingo, dia 28, foi realizada uma grande homenagem para o regente na Torre de TV, o lugar de Brasília que Barbato mais gostava. No repertório, além de músicas eruditas, o rock de Renato Russo, interpretados pelos solistas Janette Dornellas, Leonardo Neiva, Sara Sares, Lys Nardoto e Leonardo Neiva. O destaque da noite ficou por conta da banda de rock pesado Trampa, liderada por André Noblat, que apresentou o rock-poema “Eu te presenteio com a fúria”, orquestrada por Silvio Barbato.
Silvio Barbato adorava apresentações ao ar livre. Na sua opinião, era uma das formas de aproximar a orquestra do povo. Foi chamado como “o maestro que adorava estar perto do povo”. Ali mesmo na torre, em 2007, ele conseguiu reunir uma multidão calculada em 30.000 pessoas para uma de suas apresentações como regente. Levava a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claúdio Santoro a todos os cantos do DF. Entre o Plano Piloto e as mais distantes Cidades-Satélites. Certa vez, em uma apresentação da mesma no Teatro da Praça em Taguatinga, ao invés de estar trajado como tal, estava vestido com a camisa da seleção brasileira. Era época de Copa do Mundo. Ano, 2006. E a todo momento conversava e brincava com a platéia, principalmente falando da seleção, do Parreira e etc…. Fez o público cantar junto com os músicos. Ora regendo a orquestra, ora regendo a platéia. Um show a parte que eu pude presenciar. Uma noite que ficará para sempre na minha memória.
Gostaria de dedicar esta postagem a esse grande mestre com carinho. E lá no andar de cima, deve estar fazendo uso de sua batuta, entoando canções com Cazuza, Renato Russo e Raúl Seixas. O céu deve estar mais alegre.
Abraços a todos;
Carlos Henrique.
Obs: Crédito da foto: J.R. Neto e Eraldo Perez – Foto Agência
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