Após quase 25 anos de espera, a sequência do icônico “O Auto da Compadecida” chega para encantar uma nova geração de espectadores enquanto aquece o coração dos fãs do original. Dirigido por Guel Arraes e Flávia Lacerda, o filme estreia em 25 de dezembro como um verdadeiro presente de Natal para o cinema brasileiro.
Um Retorno à Taperoá
A fictícia cidade de Taperoá volta a ser o cenário das peripécias de Chicó (Selton Mello) e João Grilo (Matheus Nachtergaele). Agora mais maduros, mas ainda cheios de carisma e humor, a dupla enfrenta novos desafios e desventuras, mantendo a essência que os consagrou. Enquanto Chicó continua ingênuo e sonhador, João Grilo segue afiado e irreverente, tecendo suas artimanhas com maestria.
O filme não é apenas uma comédia, mas uma obra que explora temas profundos, como desigualdade social, fé, política e a luta cotidiana do povo nordestino. Com inteligência e sensibilidade, a narrativa mistura humor e crítica social, traçando um retrato ao mesmo tempo irreverente e honesto do Brasil.
Um Elenco Brilhante
Selton Mello e Matheus Nachtergaele retomam seus papéis com performances que transbordam naturalidade e emoção, reafirmando a química que marcou o primeiro filme. O elenco de apoio também é um show à parte: Virgínia Cavendish retorna como Rosinha, enquanto Enrique Díaz interpreta o jagunço Joaquim Brejeiro, agora a serviço do Coronel Ernani, vivido por Humberto Martins.
Entre as novidades, Taís Araújo brilha como a nova Compadecida, Fabíula Nascimento dá vida à espirituosa Clarabela, e Luís Miranda traz humor como o picareta Antônio do Amor. Mas é Eduardo Sterblitch, no papel do radialista Arlindo, quem rouba a cena com sua atuação afiada e carismática, reafirmando seu talento no cenário audiovisual brasileiro.
Técnica e Beleza Visual
Tecnicamente, o filme é um espetáculo. A fotografia captura a beleza árida do sertão nordestino, enquanto os cenários e figurinos equilibram nostalgia e modernidade. Um destaque é o uso inovador de painéis de LED para criar os ambientes, substituindo o tradicional chroma key e oferecendo uma experiência visual única.
Essas referências técnicas colaboraram com a direção-geral, facilitando o trabalho de Guel Arraes e Flávia Lacerda ao apresentar na tela de cinema uma bela cenografia que remete ao teatro, homenageando o vislumbre do escritor Ariano Suassuna (1927-2014), do texto original do “Auto da Compadecida”, além de “A Farsa da Boa Preguiça”, outra peça do autor, que inspira a sequência.
\A trilha sonora, composta por João Falcão e Ricco Viana, é uma joia à parte. Com canções marcantes interpretadas por artistas como Maria Bethânia e João Gomes, ela reforça a conexão emocional com a história. A regravação de “Canção da América” (Milton Nascimento e Fernando Brant) é um momento de arrepiar, celebrando a amizade que é o coração da trama.
Nostalgia e Novidade
“O Auto da Compadecida 2” equilibra nostalgia e inovação, revisitando elementos do filme original sem perder a oportunidade de apresentar novos personagens e histórias. Ainda assim, em alguns momentos, a dependência das referências pode tornar certas cenas previsíveis, o que diminui um pouco o impacto emocional.
Conclusão
Embora não supere a magia do primeiro filme, “O Auto da Compadecida 2” é uma sequência que respeita e expande o legado da obra original. Com humor, emoção e uma dose de reflexão, o longa celebra a riqueza do sertão e a resiliência do povo brasileiro.
Recomendação
Se você é fã do primeiro filme, esta sequência é imperdível. Se ainda não conhece o clássico, aproveite para assisti-lo antes de embarcar nesta nova jornada. “O Auto da Compadecida 2” é uma comédia inteligente, divertida e profundamente brasileira, que nos faz rir e pensar ao mesmo tempo.