Finalmente, um dos filmes mais aguardados de 2024 chega aos cinemas nesta quinta (2). Nosferatu, dirigido por Robert Eggers, conhecido por sua meticulosidade e abordagem autoral em obras como A Bruxa e O Farol, se propõe a revisitar o clássico do cinema mudo Nosferatu (1922), de F.W. Murnau. A nova versão, que carrega o mesmo nome, não é um simples remake, mas uma releitura contemporânea que aprofunda ainda mais a atmosfera gótica e sombria que consagrou o Conde Orlok como um ícone do terror.
Foram necessários 10 anos para que o projeto saísse do papel, e a dedicação de Eggers é evidente na recriação da atmosfera opressiva do original. A autoralidade do diretor transparece na riqueza de detalhes históricos e estéticos, combinando pesquisa rigorosa, visuais impressionantes e interpretações que evocam desconforto e imersão.
Eggers demonstra sua ambição em criar uma experiência sensorial única. A fotografia, em tons pálidos e sombrios, transporta o espectador para vilarejos europeus do século XIX, cercados por névoa e castelos assustadores. A direção de arte é um espetáculo à parte, com cenários e figurinos que respiram autenticidade e carregam detalhes macabros. O realismo também é reforçado pelo uso de efeitos práticos, incluindo a utilização de ratos reais em vez de CGI, o que enfatiza o compromisso do diretor com o medo genuíno.
A produção original influencia diretamente a reimaginação de Eggers. Primeiramente, por ser um marco cinematográfico do expressionismo alemão. Em segundo lugar, pela polêmica em torno de sua origem, já que Nosferatu é amplamente considerado uma adaptação não autorizada de Drácula, de Bram Stoker. Por isso, o vampiro recebe o nome de Orlok e não Drácula.
A trama de Eggers se passa na Alemanha do século XIX e acompanha Ellen Hutter (Lily-Rose Depp), uma jovem que se vê envolvida em eventos sobrenaturais após a chegada do enigmático Conde Orlok (Bill Skarsgård). O filme explora temas como obsessão, medo e a luta entre o bem e o mal, mantendo-se fiel à narrativa do original, mas com nuances modernas. Eggers também aprofunda questões como a peste, a repressão sexual e o medo do desconhecido, conectando a história ao contexto social da época.
Bill Skarsgård, conhecido por sua atuação como o palhaço Pennywise em It, entrega uma performance arrepiante como o Conde Orlok. Sua maquiagem, inspirada na versão de 1922, o transforma em uma figura cadavérica, com unhas longas, dentes pontiagudos e olhos penetrantes que carregam uma maldade ancestral e melancólica.
Lily-Rose Depp interpreta Ellen Hutter com delicadeza, trazendo fragilidade e contraste à natureza predatória de Orlok. Já Nicholas Hoult, como Thomas Hutter, oferece uma atuação sutil, mas eficaz, que traduz a inocência e a ganância de seu personagem. O elenco de apoio, incluindo Aaron Taylor-Johnson, Emma Corrin e Willem Dafoe, enriquece ainda mais a narrativa, conferindo densidade e camadas à história.
Sombrio, envolvente e contemplativo, Nosferatu exige paciência e atenção do espectador, adotando um ritmo mais lento e evitando sustos fáceis. Essa abordagem pode não agradar a quem prefere um terror mais direto, mas recompensa aqueles que buscam uma experiência cinematográfica profunda e imersiva.
Para quem busca um terror que desafie expectativas, questione a natureza do mal e transporte o espectador para um universo de pesadelos, o novo Nosferatu é uma experiência imperdível, ideal para ser vivida nas telonas. Trata-se de uma homenagem inovadora e respeitosa ao clássico do cinema.
Considerações adicionais:
O filme faturou mais de US$ 50 milhões em sua primeira semana de exibição, consolidando-se como um sucesso de público e crítica.
Eggers anunciou que a versão para mídia física e streaming incluirá um corte do diretor, prometendo aprofundar ainda mais a experiência do público.
Sobre o título, “Nosferatu” deriva de uma palavra romena antiga, que significa “insuportável” ou “repulsivo”, referindo-se a uma figura demoníaca e maligna.