Na segunda parte da entrevista, Falcão fala sobre a formação em arquitetura, de Hebe Camargo e Francisco Couco, de seu relacionamento com outros artistas e de seu maior clássico: Um bodegueiro na FIEC.

NRDR: Esse sucesso nacional você acha que começou no “Dinheiro é Tudo mas não é 100%” de 94?

Falcão: Não… já começou no “I´m not dog no”, que me lançou assim nacionalmente… Principalmente em São Paulo e Rio. No resto do Brasil eu não sei não… Mas o “Dinheiro é tudo” é o disco mais conhecido meu…

NRDR: Você já citou muitos famosos em suas músicas: Hebe Camargo, Francisco Couco… alguém já reclamou?

Falcão: Francisco Couco reclamou outro dia. Não assim seriamente, mas veio. Aí eu perguntei por que ele disse: “Não cara, tem um vizinho lá no prédio que eu moro que não gosta de mim então todo domingo, 6h da manhã, o cara coloca a música, assim você me lasca.” Eu fiz uma música, que tá no disco chamado “Do penico à bomba atômica”, de 2000, esse disco tem uma música que se chama “A volta dos que não foram” que eu cito pelo menos umas 30 personalidades. A música toda é citando alguma coisa que os caras fizeram, ou usaram, que eu não sei o que é e todo mundo fica querendo saber, e no final da música ninguém diz o que é. Sílvio Santos gostava muito, Hebe Camargo usou quando era menina, Pedro de Lara ainda usa e tal… mas não diz o que é… heheeheh… E Pedro de Lara quando era vivo veio me perguntar o que era isso. Eu disse: você que usa, não sabe, imagina eu… “A volta dos que não foram” é assim… Zé Ramalho usa muito quando era rapaz… Ele veio me perguntar o que é… eu falei: “sei não…”

NRDR: A Legião Urbana fez um grande clássico que é Faroeste Caboclo. Você tem um grande clássico que é “Um bodegueiro na FIEC”.

Falcão: Tem uma história essa música porque, na verdade, aqui tinha um vaqueiro, dono de um banco que faliu depois, que ao mesmo tempo era Senador da República. O nome dela era Afonso Sancho. E ele era presidente da FIEC, Federação das Indústrias do Estado do Ceará, e quando fui fazer essa música com o Tarcísio, eu fiz pensando nesse cara. Pô, o cara era budegueiro mesmo, tinha um pequeno comércio e transformou-se num grande banqueiro, industrial e senador. Foi baseado na vida do cara. Só que não falamos isso, mas fazendo show por aqui, antes de eu ir me embora daqui, fazendo show pelos bares, pra tirar onda eu falava: “Essa música é em homenagem ao Senador Afonso Sancho.” Um dia veio o neto do cara e falou que ia entrar na justiça pra parar de falar o nome do cara… E ele tinha um jornal também e aí proibiram de sair no jornal do cara. Não podia ter foto minha… aí o cara morreu, o jornal fechou e eu nem me lembro mais dele… É que nem aquela música da Hebe Camargo, na verdade quando eu fiz, no lugar de Hebe Camargo era Regina Marshall, que é uma colunista social aqui que é muito brega. Anda de bobs no cabelo, aquele negócio todo e eu falava: “Conforme poderia acreditar, Regina Marshall”. A mulher cismou comigo, disse que ia me processar e tal. Daí quando eu fui gravar o disco eu digo: “Vou tirar o nome dela já que ela não quer ser famosa”. Botei o nome da Hebe no lugar, ela adorou e até hoje me agradece… heheheheh…


Regina Marshall entrevistada por Moisés, o bíblico…

NRDR: É verdade que você foi ao Programa da Hebe uma vez e aí contou pra ela que teve um sonho com um monte de mulher…

Falcão: Foi… Era assim… a Hebe tava perguntando a respeito de sonhos, aí ela me perguntou: “Falcão, vc já sonhou?” “Sonhei… sonhei que tava numa fila assim,um monte de mulher querendo me agarrar, mulher nua já e você tava na fila!”. “Tava?? E aí, o que aconteceu??”. “Nada, na sua vez eu acordei…”.

NRDR: É divertido ir nesses programas??

Falcão: É muito bom… Essas pessoas que sacam a brincadeira tipo Hebe Camargo, Jô Soares e outros é muito legal. A pessoa já sabe que é brincadeira, não vai com aquel ranço. A Hebe também teve um negócio engraçado no programa dela que foi a primeira vez que eu fui, exatamente cantar essa música, que ela queria que eu fosse lá, ela não me conhecia e a música tava tocando. E uma semana antes eu tinha dito no jornal O Globo lá do Rio que a mulher mais brega do Brasil era Hebe Camargo. Aí, rapaz, eu entrei e antes de cantar ela já veio e: “Hei, você falou num jornal aí que eu era a mulher mais brega do Brasil? Falou mesmo?”. “Falei. Falei mas não tinha muita certeza não, mas agora pessoalmente, realmente é!” Ela morre de rir dessas coisas…

NRDR: Vez ou outra você tá na TV. Qual programa foi bacana de fazer??
Falcão: Ah…tem muita coisa, tem muito programa. Por que eu sou um cara que a televisão gosta muito de mim. O rádio não toca. Muito difícil de ouvir uma música minha em rádio. Mas a TV, esses programas que eu vou, os caras chamam mesmo. Eles têm prazer em chamar. Eu já fiz muita coisa interessante. Tem um programa da MTV com o João Gordo gravado aqui em Fortaleza, uma disputa pra ver quem bebia mais, que eles já reprisaram mais de 100 vezes. O João é um desses caras do espírito da irreverência. O programa dele não tem aquelas hipocrisias de sem roupa… lá é bom e acabou.

NRDR: Se ele te chamasse pra gravar com os Ratos de Porão, você gravava??

Falcão: Com certeza. Aliás, seria uma grande honra gravar. Agora mesmo eu gravei com o Massacration. Gravei pro disco dele. Gravei a música “Múmia Tarada”. Uma múmia que de repente levanta de pau duro e sai correndo atrás de tu.

NRDR: Você se formou em arquitetura ou engenharia??

Falcão: Arquitetura…

NRDR: Como é que foi?? Chegou pro seu pai e falou: “Vou mais fazer essa porra não!! Me formei, pegue o canudo pra você, vou ser cantor!”

Falcão: Meu pai não por que nessa época morava em São Paulo, era separado da minha mãe, ele até que não tinha muita ingerência, mas minha mãe ficou invocada. Minha mãe veio, assistiu um show meu por aqui num sei em qual lugar. Terminou o show ela disse: “Como é que pode?? O camarada passa 5 anos na faculdade, dá o maior duro, pra fazer uma fuleragem dessa?”. Eu falei: “Oh mamãe, o que a senhora achou??A platéia gosta??”. “Gosta. A platéia gosta. É… tá bom… tá melhor que nada.”.

NRDR: Rapaz, lá em Brasília arquitetura é coisa de baitola…

Falcão: Aqui também. Todo tempo é assim. É coisa de baitola, mas não é 100% baitola. Na minha turma eram 20 alunos: 12 mulheres, 7 baitolas e eu. Salva-se gente do meio.

NRDR: Você chegou a fazer algum projeto arquitetônico?

Falcão: Fiz… Aqui em Fortaleza trabalhei pouco. Terminei em 88. Comecei a trabalhar em 89. 90 comecei a cantar. 91 lancei o primeiro disco. Mas eu tinha um escritório aqui em Fortaleza, eu e uns colegas de faculdade, fiz umas casas de praia…

NRDR: Tem alguma em pé ainda?

Falcão: A da minha sogra tá em pé. Essa eu fiz pra cair, mas a véia tem um sangue ruim. A casa não caiu! Tá lá em pé ainda. Inclusive ela se mudou, vendeu, to com medo que caia no coitado que comprou que não tem nada a ver com a história. Mas é um negócio legal arquitetura…

NRDR: Em arquitetura você deve gostar muito do nosso saudoso Oscar Niemeyer…

Falcão: Lógico… muito… saudoso não, cabra! Tá vivo ainda!

NRDR: Cabra teimoso… Vc conhece aquele grupo de Brasília, Os Melhores do Mundo?

Falcão: Conheço demais, os cabras são meus amigos…

NRDR: Eles disseram que Oscar Niemeyer acha que tá vivo…

Falcão: Hehehehehe… aliás, um deles, aquele que tá no Zorra Total, eu gravei um filme com ele lá em Brasília…

NRDR: O Galinha Preta, né?

Falcão: Eu participei lá…

NRDR: Tem o Alexandre do Natiruts, quem faz o pastor é o Jovane Nunes…

Falcão: E eu fui fazer um personagem que era exatamente contratado pelo Jovane pra cantar numa igreja… Muito bom o filme lá.

NRDR: O Jovane é o pastor, os ajudantes do pastor são os integrantes do G7, que é uma outra companhia de teatro de Brasília excelente…

Falcão: As cenas que eu gravei com o Jovane ficaram muito engraçadas. Aqui em Fortaleza eles fazem um sucesso muito grande. Todas as vezes que vêm aqui é tudo lotado. Eu nem sabia disso, eles fizeram uma homenagem a mim aí num show, eu não tava nem presente, depois eu vi o vídeo… e foi muito legal.


Falcão e seu óculos de sol noturno…

Na próxima parte, o epílogo deste bate-papo!