A incursão cinematográfica que apresenta e reconta o universo paranormal estudado pelo casal Warren chega ao fim com “Invocação do Mal 4: O Último Ritual”, atualmente em cartaz nos cinemas.

Baseado nas investigações e registros de Ed e Lorraine Warren, o chamado invocaverso nasceu em 2013 com o primeiro “Invocação do Mal”, obra que redefiniu o cinema de horror contemporâneo e inspirou uma série de derivados com resultados variados — alguns memoráveis, outros nem tanto.

Se os spin-offs oscilaram em qualidade, a franquia principal sempre se apoiou no carisma e na força interpretativa de Patrick Wilson e Vera Farmiga, que ao longo de quatro filmes mantiveram os Warrens no centro da narrativa. Se o primeiro longa foi arrebatador, o segundo sólido e o terceiro decepcionou parte do público, este quarto e derradeiro capítulo se aproxima da intensidade do segundo, oferecendo uma despedida que busca equilibrar emoção e terror.

O enredo retoma o famoso caso da família Smurl, que em 1976, na Pensilvânia, alegou viver experiências paranormais devastadoras após se mudar para uma nova casa. Os acontecimentos chamaram atenção da mídia e estudiosos, e, segundo registros, foram solucionados por um pastor — deixando nos Warrens uma mancha em seu legado. É justamente a partir desse ponto que “O Último Ritual” constrói um filme que mescla investigações sobrenaturais com um olhar íntimo para os dilemas do casal, criando um tom de despedida para personagens que se tornaram ícones do terror moderno.

Do ponto de vista técnico, o diretor Michael Chaves encontra aqui o seu melhor trabalho dentro da franquia. A atmosfera visual é bem construída, com fotografia e direção de arte que recriam os anos 80 sem exagero, e enquadramentos que valorizam a tensão entre sombras, luzes e silêncios. Há ainda espaço para homenagens a clássicos do cinema, reforçando a sensação de ritual de encerramento para toda a saga.

As críticas mais severas apontam para um ritmo irregular, sobretudo pela demora em inserir Ed e Lorraine plenamente na ação, além da dependência de fórmulas já conhecidas pelo público. Alguns consideram o filme previsível, preso a um estilo que não se renova, enquanto outros sentem falta de um terror mais ousado e impactante. Ainda assim, a maioria reconhece que a produção acerta no que tem de mais valioso: a entrega emocional de Wilson e Farmiga, cuja química segue sendo o coração pulsante do universo criado por James Wan.

Para este que escreve, o suposto “excesso” de drama familiar não compromete a experiência. Pelo contrário: dá densidade a personagens que poderiam ser apenas veículos para sustos fáceis, mas que ao longo de doze anos se transformaram em figuras de afeto para o público.

Invocação do Mal 4: O Último Ritual” talvez não reinvente o gênero, mas cumpre a difícil missão de encerrar uma das franquias de terror mais populares do século XXI com dignidade, emoção e alguns sustos memoráveis. Para os fãs devotos dos Warrens, é uma despedida agridoce; para o gênero, uma lembrança de que o medo também pode ser um terreno de amor, fé e resiliência.