Eu vou fugir do esquema o disco que “mudou a minha vida”; adotado com maestria pelos amigos Daniel e Tiberio, fugirei não por desagrado, e sim, porque descobri depois de muita análise que sou incapaz de fazer uma analogia desse tipo, são tantos discos que prefiro catalogá-los como discografia básica, postarei sem seguir uma ordem de importância, trabalharei de forma aleatória, listando o que gosto no cenário nacional e internacional, e assim leitor, você descobrirá que muitos discos mudaram a minha vida, começarei pelo Álbum A Revolta dos Dândis, dos Engenheiros do Hawaii, espero que goste e que se manifeste nos contando os seus preferidos.

O ano: 1987. A banda: Os Engenheiros do Hawaii. O disco: A Revolta dos Dândis.

Com este trabalho, a banda inicia uma trilogia com as cores da bandeira gaúcha, sendo que a Revolta… representa o amarelo, o Ouça o que eu digo… o vermelho e Várias Variáveis a verde. A banda liderada por Humberto Gessinger, começa a impor seu estilo, usando e abusando de efeitos sonoros, os símbolos e as letras bem trabalhadas. Os arranjos musicais são influenciados pelo rock dos anos 60, e as letras são críticas, de várias antíteses e paradoxos e citações literárias de filósofos, como Camus e Sartre. Destaque para Infinita Highway, Terra de Gigantes, Refrão de Bolero e a faixa título que é dividida em duas partes, os antigos vinis eram divididos em Lados A e B.

Com a boa vendagem, começam os shows para grandes platéias nos centros urbanos do país, como o festival Alternativa Nativa em 1988, no qual dividiam o palco com bandas como Legião Urbana e Capital Inicial; Os Engenheiros lotariam todos os espaços pelo Brasil afora, e se tornaram uma das bandas mais amadas pelo público e uma das mais odiadas pela crítica.


O Disco:

1. A Revolta dos Dândis I:
O disco é um ensaio sobre a descoberta do ser, e o refrão “Eu me sinto um estrangeiro, passageiro de algum trem, que não passa por aqui, que não passa de ilusão…” nos faz refletir sobre acontecimentos que nos deixam inerte.

O antigo LP hoje CD, abre com uma pancada, a música é um rock, com pitada folk, bateria seca, harmônica deliciosa, baixo pululante, é demais! A canção destila impressões da juventude que não sabe bem aonde se encontra, a tônica da geração 80 e 90.

2. Terra de Gigantes:
“Nessa terra de gigantes (eu sei, já ouvimos tudo isso antes), a juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes”

A tendência de retratar uma juventude desnorteada, segue numa canção triste e bela, que nos faz sentar a vontade com os amigos em uma roda de violão e cantarolá-la pelo resto da noite.

3. Infinita Highway:
“Não queremos lembrar o que esquecemos, nós só queremos viver. Não queremos aprender o que sabemos, não queremos nem saber. Sem motivos, nem objetivos. Estamos vivos e é só, só obedecemos a lei da Infinita Highway”.

A faixa é otimista, começa com um linha de baixo apaixonante, bateria acelerada, mostra que podemos lutar, nos permitir deixar algumas coisas para trás e correr atrás da felicidade.

4. Refrão de Bolero:
“E um erro assim, tão vulgar nos persegue a noite inteira, e quando acaba a bebedeira ele consegue nos achar…”
“Teus lábios são Labirintos! Que atraem os meus instintos mais sacanas, e o teu olhar sempre distante, sempre me engana. É o fim do mundo todo dia da semana…”

Outra música que é perfeita para tocar ao violão rodeado de amigos, retrata o amor e a tristeza destilada num copo cheio, a conquista permeada por incidentes, é o desejo, mesmo que seja errado, estranho, que ele seja vivido e se necessário escondido.

5. Filmes de Guerra, Canções de Amor:
“Filmes de guerra, canções de amor, manchetes de jornal, ou seja lá o que for, há sempre uma estória infeliz esperando uma atriz e um ator”.
“Chegamos ao fim do século voltamos enfim ao início, quando se anda em círculos nunca se é bastante rápido”.

Temos aqui o samba rock, a bateria de Carlos Maltz dá o tom e nos entrega uma canção sobre as idas e vindas da vida, perdendo ou ganhando, sempre temos a exata e verdadeira sensação de deja vu. Medo e Coragem. Vitória e Derrota. Uma das melhores do disco, lado B de primeira!

6. A Revolta dos Dândis II:
“Nossos sonhos são os mesmos, há muito tempo, mas não há mais muito tempo pra sonhar”

A canção acelerada, continuação ideal da primeira faixa, que retrata nossos temores, abria com maestria o lado B do LP.

7. Além dos Out-Doors:
“As aranhas não tecem suas teias, por loucura ou por paixão. Se o sangue ainda corre nas veias é por pura falta de opção…”
“Você sabe que o que eu quero dizer…não está escrito nos out-doors”

Uma palavra define a ótima música: impotência. Praticamente o mesmo tema de Filmes de Guerra…, temos o livre arbítrio, mas pouca chance de escapar da rotina e da eterna repetição da história. A canção conta excelente linha de baixo e maravilhosa bateria; não tenho muito que dizer, essa é para curtir.

8. Vozes:
“Se você ouvisse as vozes que ouço à noite, acharia tudo que eu faço natural”

Uma canção melancólica, linda e que nos leva a reflexão. Os atos do homem são estranhos, mas os motivos particulares, analisados por outra ótica perdem essa estranheza.

9. Quem Tem Pressa Não Se Interessa:
“Quando você me olha com seu olhar tranqüilo. Sempre diz que falta algo, ou isto ou aquilo”

Mais uma vez, somos guiados por Carlos Maltz. Aqui a canção poderia ser facilmente só de protesto, mas na verdade, ela culpa a todos nós pelas mazelas do mundo, afinal, quem te pressa não se interessa.

10. Desde Aquele Dia:
“Eu só queria saber o que você foi fazer no meu caminho, eu não consigo entender, não consigo mais viver sozinho”

Uma verdadeira canção de amor, letra bela e uma autêntica canção da MPB, versos simples e diretos, será ela foi escrita para a Ana de Refrão de Bolero?

11. Guardas da Fronteira:
“Antes de atirar o vaso na tv, eu ouvi o que ela dizia: Quando não houver mais amanhã, será um belo dia”

O baixo de H.G. dá os acordes corretos para a música que trata da impaciência e insatisfação, realmente, tem dias que só resta atirar o vaso no tv.

Julio Reny, que faz o dueto com Humberto, é um dos mais famosos ícones da música gaúcha.

Em tempo, me alegra saber que Pitz, o antigo baixista largou o barco assim que o 1º primeiro disco foi lançado, afinal, a cozinha formada por Humberto (Antes guitarra e agora baixo), Augusto (Guitarra) e Carlos (Bateria) é bombástica e ajudou a moldar outros ótimos discos.

A Revolta é um disco sensacional, imperdível na coleção de qualquer fã de rock nacional, e além das radio hits (infinita, refrão, revolta e etc), você não se empolgar com Além dos Out-Doors, Filmes de Guerra e Vozes, amigo(a), um conselho, procure tratamento especializado.


Ficha Técnica:

A Revolta dos Dândis, BMG Ariola, 1987.
Gravado nos Estúdios da RCA, produzido por Reinaldo B. Brito.
Arte da capa: Carlos Maltz e Imageria.

Humberto Gessinger: voz, baixo e guitarra XII
Augusto Licks: voz, violão e harmônica (guitarra neste disco era estágio)
Carlos Maltz: voz, bateria e percussão

O disco era dedicado à Porto Alegre e as fotos batidas em “longe demais das capitais” (título do primeiro disco)