Sobre a questão dublado versus legendado:
Façamos justiça, reclamei da falta de cópias dubladas em Brasília, mas um único lugar se propôs a exibir versão legendada. Nem tanto pelas vozes de Dakota Fanning (a menina de Chamas da Vingança) e Teri Hatcher (Lois & Clark e Desperate Housewives), mas como as animações são feitas a partir da dublagem, a redublagem em português acaba causando o mesmo problema de filmes com atores reais, que é a perda da expressão correta. Não desmerecendo os tradutores e dubladores brasileiros, pois uma pessoa que prefere animações dubladas me expôs a vantagem da adaptação de piadas e figuras de linguagem: Lembram do frango de “Tá dando onda”, dizendo que surfava no Pantanal mato-grossense? Pois é.
A partir de agora, é possível que role uns spoilers:
Mas sobre Coraline, dirigido por Henry Selick, diretor de “O Estranho Mundo de Jack” (1993) e erroneamente creditado a Tim Burton, há uma coisa a ser dita: não é para crianças. Das três que vi entrarem no cinema, duas foram embora no meio e uma dormiu. A sensação de conforto do início se transforma em tensão num momento específico que está em um dos trailers, o dos botões na caixa. Não li o livro, mas o filme reduz-se à situação clássica de pais que não dão atenção suficiente a uma filha, mas esta filha é espertinha o suficiente pra não posar de coitadinha. Percebe o desaparecimento dos pais e simplesmente age para resolver a situação, obviamente com medo, mas o encarando. Um bom exemplo pra molecada de hoje em dia.
A comparação com Alice no País das Maravilhas é inevitável, mas Neil Gaiman (autor de Sandman) não é conhecido pela “fofura” de suas obras. Inclusive darei uma opinião polêmica aqui: o gato de Coraline é BEM mais legal do que o Gato que Ri, da Alice. Apesar das semelhanças indiretas, a animação é mais soturna e confesso que até arrepiei em alguns momentos com a trilha sonora, outra característica incrível do filme. Escuto-a enquanto escrevo este post em plena luz do dia e prevejo a hora em que uma mão de agulhas vai sair da parede e me retalhar a cara. Ok, não é pra tanto, mas creio que o melhor do filme é a trilha sonora, que dá o tom certo entre a fábula e o terror.
Sobre a técnica da animação, é 3D mas suspeito de stop-motion na abertura, ou a simulação desse efeito ficou perfeita demais. Olhos mais atentos percebem as variações entre a animação suave e o efeito quebrado da animação clássica de bonecos, que não deixa o filme cair na mesmice da suavização de movimento.
No fim, Coraline é absolutamente obrigatório para quem curte animação e fábulas, além do trabalho do Neil Gaiman, claro. Xiitas que leram o livro podem chiar, mas o filme ficou impecável, senhores. Extremamente Na Rota, ou como eu digo, vale a inteira! Posso usar o selo de qualidade NRDR aqui?
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