Por Aysla de Oliveira

Depois da Caçada, ou em inglês After the Hunt é um Drama de Suspense Psicológico que estreou em 16 de outubro de 2025 nos cinemas brasileiros. E estreou no Prime Video em 20 de novembro de 2025, configurando o top 4 no streaming. Dirigido por Luca Guadagnino (Me Chame Pelo Seu Nome) e roteiro escrito por Nora Garrett.

E estrelado por Julia Roberts, Andrew Garfield, Ayo Edebiri, Michael Stuhlbarg, Chloë SevignyThaddea Graha e Will Price.

O filme aborda temas como a cultura do cancelamento, as dinâmicas de poder e as complexidades da era Pós- #MeToo no ambiente acadêmico.

SINOPSE DE DEPOIS DA CAÇADA

Alma Imhoff, uma renomada professora universitária, se vê em uma encruzilhada pessoal e profissional quando Maggie Price, uma de suas alunas prodígio, faz uma grave acusação de má conduta sexual contra um colega professor e amigo próximo, Hank Gibson. À medida que o escândalo se intensifica no campus, um segredo sombrio do próprio passado de Alma ameaça vir à tona, forçando-a a confrontar seus próprios dilemas éticos sobre lealdade, justiça e verdade.

TRAILER OFICIAL

Cultura do Cancelamento e o #MeToo

O movimento #MeToo e a Cultura do Cancelamento são fenômenos profundamente interligados e indissociáveis da Era Digital. A internet e as redes sociais não apenas permitiram que eles acontecessem, mas também ditaram a sua velocidade e as suas consequências.

O #MeToo (Eu Também) surgiu em 2017, impulsionado pelas denúncias contra o poderoso produtor de Hollywood, Harvey Weinstein. No entanto, a força real do movimento veio do uso massivo da hashtag nas redes sociais.

A Velocidade do Julgamento e o Linchamento Virtual

O debate não é mais sobre se a denúncia deve ser feita, mas sobre a velocidade e a irreversibilidade do “cancelamento”. As redes sociais (com blogs anônimos, hashtags, vídeos) atuam como um tribunal sumário, onde a viralidade é mais rápida que o devido processo legal. O filme ilustra como a exposição online, muitas vezes feita por proxy (através de Alma, por exemplo), pode ser uma forma de buscar justiça imediata diante da descrença nas instituições, mas também se transforma em uma forma de agressão e linchamento virtual com graves impactos na saúde mental dos envolvidos, mesmo que a denúncia seja legítima.

A Complexidade das Vítimas e dos Agressores

O #MeToo trouxe à tona a importância de acreditar nas vítimas, mas a cultura do cancelamento, muitas vezes, rejeita qualquer nuance ou ambiguidade moral dos envolvidos. O filme desafia essa visão maniqueísta ao retratar Maggie como vítima/denunciante, mas também como “desonesta” em outros aspectos de sua vida. Na vida real, isso se traduz na dificuldade de manter o foco na denúncia principal (a agressão sexual) quando o denunciante ou o denunciado possuem um histórico ou comportamento complexo. A subjetividade do trauma é real, mas o julgamento público exige uma clareza que nem sempre existe.

RECEPÇÃO DA CRÍTICA E DO PÚBLICO

O filme têm sido aclamado pela crítica internacional e nacional, com uma recepção extremamente positiva em grandes festivais.

Rotten Tomatoes: 37% de aprovação em 212 avaliações dos críticos, e 38% de aprovação em mais de 250 avaliações do público.

IMDb: 6,0/10 de 10 mil avaliações.

Letterboxd: 3,9/5 (estrelas) de 126 mil avaliações.

CinemaScore: Avaliação Classe C- do público ao final das sessões.

ANÁLISE PESSOAL

Depois da Caçada me deixou com um misto de admiração e frustração. A parte da admiração vem, sem dúvida, de como o filme é bem feito tecnicamente. A Julia Roberts, como Alma Imhoff, é a âncora de tudo; ela está simplesmente fenomenal. Sua performance é aquela coisa fria, calculista, mas com um tormento interno que você sente de longe.

Ela segura a barra do filme, mesmo quando o roteiro começa a derrapar. Fora isso, o filme tem a cara do Luca Guadagnino – visualmente lindo, elegante, com aquela fotografia invernal de Yale que te faz sentir o frio na espinha. É um filme que grita ser importante e, pessoalmente, gosto quando tentam explorar o “cinza” moral, levantando questões sobre a verdade, as ambições e o poder em jogo, sem dar respostas prontas.

A frustração, no entanto, é grande. O filme fica muito mais preocupado em discutir conceitos de filosofia e teorias acadêmicas – Foucault, Hannah Arendt e todos aqueles debates de alto nível – do que em nos fazer sentir a dor ou o drama humano por trás do escândalo. Senti que ele gastou tempo demais falando sobre a cultura do cancelamento e pouco tempo mostrando como isso destrói vidas.

A sensação é de um drama excessivamente “cabeça” e, ironicamente, meio vazio de emoção. Para piorar, achei o roteiro um tanto superficial em sua abordagem. O debate sobre as tensões geracionais e o movimento Me Too pareceu chegar um pouco datado e, às vezes, até meio condescendente com as preocupações dos mais jovens, em vez de realmente aprofundar o tema. Por fim, aquele final polêmico e ambíguo, com o salto temporal e a quebra da quarta parede, soou mais como um truque do que como uma declaração artística forte, como se o diretor quisesse se esquivar de fazer um comentário de verdade.

No fim das contas, Depois da Caçada me deu a sensação clara de oportunidade perdida. É um filme com um elenco de peso, um diretor talentoso e um tema urgente, mas que falha ao tentar ser muito intelectual e pouco visceral. Ele certamente gera discussão, e isso é o que ele faz de melhor: dar material para a gente debater ética e o preço da verdade depois de assistir. Mas, como uma experiência cinematográfica emocionante, achei-o longo, frio e aquém da faísca que eu esperava.

Até a próxima!