Nesta parte, que era pra ser a última mas passou a ser a penúltima (devido ao grande sucesso de série e vários pedidos para ser uma entrevista ad eternum… mentira, foi porque não deu tempo de degravar tudo), Falcão relembra um pouco de seu repertório, comenta sobre células troncos, política, auto-masturbação e viadagem congênita.
NRDR: A produção do seu show é toda sua? Você que concebe o visual, o set list?
Falcão: Eu sempre fui um tanto quanto avesso a essa coisa muito, muito… essa frescura em show. Tinha um empresário meu que ficava querendo fazer cenário e tudo. Eu disse: “Rapaz, meu amigo, venha cá, você já viu um show do Jimi Hendrix com cenário?”. Ele respondeu: “Não”. “Então, o Jimi Hendrix era o cenário. Eu sou o cenário.” É claro que eu procuro um profissionalismo na parte musical. A banda tem que ser bem legal, tudo em cima, tem que ter tudo bem ensaiadinho. Mas esse negócio de cenário e outras frescuras que os produtores ficam fazendo é até legal, porque chega um ponto que você se sente paparicado, né? É bom… hehehe… mas eu não ligo pra isso tudo não. O mais importante que a parte musical esteja toda legal.
NRDR: É, mas não diga pra nós que é tudo na sorte não, de maneira espontânea, porque no show do reveillon tava tudo bem arrumadinho…
Falcão: Mas nesse caso aí, por exemplo, a luz, o som, é porque era tudo pro Paralamas do Sucesso, pra Alcyone. Se fosse um show só meu, vocês não iam se impressionar. É porque tinha os Paralamas depois. E eu fui só na carona. Tinha que aproveitar.
NRDR: Já pensou em fazer um DVD pras crianças ensinando a Dança do Jumento?
Falcão: “A Dança do Jumento em 36 lições”!!!!!
NRDR: As crianças gostam muito do seu trabalho, te reconhecem…
Falcão: Sim… sim. As crianças têm um sentido estético mais apurado do que os adultos. Elas gostam exatamente do colorido, dessa onda, desse visual. E gostam das músicas também. Elas gostam da sacanagem da música.
NRDR: Aquela vestimenta do reveillon foi exclusiva para o evento, tá lá no museu ou é sua?
Falcão: Aquilo é uma vestimenta que, por acaso decidi usar… eu não me preocupo com isso não, mas como eu tinha uma calça branca que eu quase não uso…
NRDR: Tipo Roberto Carlos?
Falcão: Uma espécie de Roberto Carlos melhorado. E eu tinha usado no programa do Márcio Garcia na Record um dia antes. Aí aproveitei…
NRDR: Você é um artista que não é metido, que disse que as pessoas que quiserem copiar o modelito podem copiar a vontade…
Falcão: Pode copiar. Sério mesmo. Esses caras mesmo, aí tipo Alexandre Herchcovitch, não sei o que, eles chuparam alguma coisa mas não querem dizer de onde foi. Mas, por exemplo, essa onda de Girassol. Teve uma época que o São Paulo Fashion Week tava cheio de Girassol. Aí eu cheguei lá com o meu e perguntei: “Ninguém vai dizer de onde veio não??” Pra você ter idéia, aquela tomada que eu uso no paletó, que não tá aqui hoje, um estilista, um carioca ou sei lá o quê, tava lá no São Paulo Fashion Week e fez um vestido só de tomada igual o meu paletó. E ninguém nem cita. A imprensa especializada nem fica sabendo.
Falconete, Falcão e o famoso Girassol
NRDR: Você consegue fazer um Top 10 da sua obra? Tipo, em sua opinião, as melhores são essas ou você gosta de todas?
Falcão: Rapaz, num chega a 5. Num chega num top five.
NRDR: heheheheheh… nenhuma música que quando terminou de gravar você pensou: “Essa música é a minha Monalisa”?
Falcão: hahahahahah… não… tem umas 10 que eu vou citar aqui algumas. Não na ordem porque eu não me lembro,mas, por exemplo, “Prometo não ejacular na sua boca”. Essa música é uma daquelas que eu falei: “Essa é a música”. Mas depois fui fazendo outras. Conhece “A multa”? “Multa essa felá da puta, multa!” que é desse disco, “Do penico à bomba atômica”. Tem aquela outra que eu cantei aqui: “A terra há de comer já que eu não comi” que eu acho muito boa também. Têm outras que são verdadeiras pérolas. Tem outra que eu ia cantar aqui, mas chegou um cara disse que não tinha mais tempo, tinha que terminar, porque o Paralamas tava vindo. Heheheheh… Herbert Vianna tava num pé e outro. Herbert Viana já tá pé ante pé (Mais uma vez, riso descontrolado na mesa)… É uma música chamada “A mulher é um gênero humano”, que tá naquele meu disco “A um passo da MPB”. Essa música é muito legal. Tem umas frases que são verdadeiras jóias filosóficas. Tem uma frase que diz assim: “É melhor cair em contradição do que do oitavo andar.”. Algumas dessas que eu gosto além de “I´m not dog no” e “Holiday foi muito”. A gente tem que cantar. A gente fica até um pouco enjoado de tanto cantar que o pessoal sempre pede…
NRDR: Ah… igual o Mick Jagger com Satisfaction…
Falcão: É… eu não canto Satisfaction de jeito nenhum… nem falo Satisfaction. Inclusive, nesse show do reveillon, o palco era muito longe da platéia, tinha uma grade com um monte de corno na parte VIP, e daí não deu pra ouvir os pedidos…
NRDR: Fica muito longe pra ver os shows, as vezes é melhor ver pela TV…
Falcão: É melhor ficar em casa. É que nem me chamaram pra ver o show do Pink Floyd no Pacaembu. Eu disse não, só vou se for por camarim do Rogério. Na arquibancada não tem jeito não. Agora mesmo o Bob Dylan vem aí, São Paulo e Rio, tava querendo ver se consigo chegar junto, porque lá de longe não dá…
NRDR: E que música não pode faltar no show? Falcão: Ah, “I´m not dog no” e essa “Holiday foi muito”. Tem a “Isaltina”, todo mundo gosta dessa música, e é uma música simplória, mas todo mundo gosta. Tem outra que é “No cume”. Aquela do cume é impressionante que qualquer lugar do Brasil o povo pede…
NRDR: Agora, em Brasília, na época em que o Herbert Viana ainda andava… Falcaão: Andava por aí… heheheheheh NRDR: exato… eles fizeram um show que voltaram para o palco para fazer o bis 5 vezes. Você conseguiu bater o recorde com “Ai, minha mãe, minha mãe…”
Falcão: Não… ali porque é forçado. É um bis forçado. Mas aquilo foi pouco. Mas já teve show meu, rapaz, de encher o saco aquilo ali. Eu não tava mais agüentando e o povo pedindo.
NRDR: Você toca algum instrumento?
Falcão: Toco. Violão. As vezes eu faço aquela do espanhol lá da pedra no violão. No reveillon eu não fiz porque na passagem de som não tinha um violão legal, não tinha muitas condições. Deixei o guitarrista fazer…
NRDR: E pra compor?
Falcão: Pra compor, toco violão. Só violão…
NRDR: E punheta, não?
Falcão: Também, mas eu falei instrumento. Isso já vem de um membro, de um apêndice…
NRDR: Você gosta de política, se envolve, presta atenção?
Falcão: Você sabia que essa semana eu ouvi uma frase daquele francês Albert Camus, né… aquele poeta… que dizia o seguinte: “Artista não é pra fazer a história, é pra sofrer a história”. Aí pronto, deu certinho porque eu não quero me meter com esse negócio de política, não quer fazer história. Eu quero é que a história venha de lá pra cá. Mas eu acho que o artista tem que ser político no sentido de através de sua arte fazer a política. Dar a idéia. Dar a opinião. Forma opinião. E não ser político-partidário.
NRDR: Frank Aguiar então vacilou?
Falcão: Frank Aguiar, Gilberto Gil, esse pessoal todo…
NRDR: O PTB fez uma propaganda de final-de-ano desejando felicidades e tal, com uma música que foi composta pelo Frank Aguiar, misericórdia! Tosca demais. O cãozinho dos teclados do lado do Roberto Jefferson…
Falcão: Foi uma das coisas mais horríveis que eu já vi na minha vida foi aquela propaganda. Mas é difícil criticar o cara porque a democracia é isso. Cada um faz o que quiser. Se ela acha que tá certo, vá lá. É que nem o sujeito ser viado, quer dá o cú, dê. Eu não vou impedir o cara de queimar…
Mais uma grande obra de Cãozinho dos Teclados e Bob Jeff.
NRDR: Cada um faz o que quiser com o seu buraco…
Falcão: O meu não, o dele… o dele lá…
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