Artigo por Gutemberg Dantas
@nacionalrock80

Desde o final da década de 1980 até a década de 1990 nós tivemos aqui em Brasília uma gama de bandas de rock que criaram clássicos e formaram gerações de fãs e que até hoje vão a shows, dentre essas podemos citar Aborto Elétrico, dando origem à Legião Urbana e Capital Inicial, Plebe Rude e Raimundos, temos outras bandas antes e depois, como Mel da Terra e Escalene por exemplo, porém a renovação de fãs e bandas é muito pequena. Mas o que será que vem acontecendo para que isso ocorra numa época em que tudo viraliza rapidamente? Porque será que hoje quando vamos a um show, ou a um Pub, vemos em sua maioria os/as “coroas”?

Quando bandas do calibre de Legião Urbana nasceram, na década de 1980, era visto que o estilo musical seria algo que estaria ligado há muitas gerações, quem não canta até hoje “Será”, “Pais e Filhos”, entre outras? Mas ao mesmo tempo temos a sensação de que elas são apenas músicas para determinado momento, não para o dia-a-dia e isso está fazendo com que o Rock Brasiliense esteja sumindo aos poucos, é para os seus amantes se preocuparem. O contexto cultural e democrático da época em que a Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude e outras foram criadas é muito diferente do que é hoje, apesar de as músicas serem muito atuais. “Nas favelas, no Senado Sujeira pra todo lado Ninguém respeita a Constituição Mas todos acreditam no futuro da nação…” ¹. “Autoridades incompetentes Acham que vocês não passam de fantoches Bonecos para brincar Bonecos para brincar Autoridades incompetentes Sabem que vocês estão em fila E a fila não incomoda…” ². “A PM na rua, a guarda nacional Nosso medo sua arma, a coisa não tá mal A instituição está aí para a nossa proteção Pra sua proteção…” ³. Vemos que nessa época as letras faziam sentido e era uma necessidade de expressão da juventude, aqui no Brasil estávamos vivendo o final da famigerada Ditadura Militar (1964-1985). Isso fazia com que a liberdade de expressão não existisse, sem contar que Brasília era uma cidade nova e não possuísse muitas alternativas de diversão.

O que pode estar acontecendo para que isso aconteça? Temos alguns pontos.

1.      O envelhecimento do rock e dos roqueiros: muitas pessoas veem o rock como um estilo musical antigo e que não serve mais como música de protesto, vê-se que isso hoje cabe ao Rap, mas o Rap raiz. Os roqueiros estão “velhos e cansados”, apesar de as letras fazerem sentido.

2.      Não temos mais a censura: não existe mais a necessidade de se falar contra o sistema (para alguns) e com isso as letras acabam por ser apenas uma lembrança do que aconteceu há quase quarenta anos.

3.      Brasília deixou de ser a Capital do Rock: quando procuramos algum lugar que tocar rock, vemos que a quantidade de locais é muito menor quando comparamos com os que tocam pagode e, principalmente, o sertanejo.

4.      Streaming: as plataformas digitais cobram dos artistas que a cada mês eles tenham novos hits e pouco se importam com a qualidade das músicas, ou seja, a mensagem que elas trazem e sua profundidade.

5.      O rock é caro: não dá para fazer rock sem uma banda completa. Diferente dos outros estilos musicais que se pode fazer música apenas com o cantor, o rock não.

6.      A cabeça fechada dos roqueiros: Talvez esse seja o ponto mais importante. Como é difícil um roqueiro aceitar uma banda nova e que traga trabalhos autorais, quando vamos num Pub, ninguém dá oportunidade para uma banda que traz sua própria música, querem apenas ouvir covers dos antigos sucessos, a nostalgia bate forte.

Obviamente que com a possibilidade de arquivar todos os acervos que temos, o Rock Brasiliense não morrerá de uma vez por todas e também os covers não permitirão que isso aconteça, porém a possibilidade de nascer uma banda nova que que faça sucesso é cada vez mais rara e isso faz com que os fãs também se tornem cada vez mais raros. Sabemos que há diversos projetos que visam proteger a memória do Rock da Capital, porém o cenário não é dos mais animadores.

Com isso podemos pensar muito e por diversas vezes e sempre vamos voltar para o título do texto: Onde está o Rock Brasiliense?

Rodapé:
1.      Que País é esse? Legião Urbana – Que País é Este 1978/1987
2.      Autoridades Capital Inicial – Elétrico 1986
3.      Proteção Plebe Rude – O Concreto já Rachou – 1986