O ano: 1986. A banda: Capital Inicial. O disco: Capital Inicial
Ao lançar o primeiro álbum, o Capital Inicial, emplacou com seu disco homônimo cinco sucessos nas rádios — veículos de mídia que validavam o que caia no gosto do ouvinte —. Os singles “Música Urbana”, “Psicopata”, “Fátima”, “Veraneio Vascaína” e “Leve Desespero”, foram veiculadas à exaustão e se tornaram clássicos do BRock80, nomenclatura para rock nacional da década oitentista.
O primeiro trabalho do grupo formado por Dinho Ouro Preto (vocal), Loro Jones (guitarra) e os irmãos Lemos, respectivamente, Flávio (contrabaixo) e Fê (bateria), ficou marcado por um som deliciosamente cru, influenciado pelo momento social que embalava o Brasil nesse período, bem como pitadas do rock inglês de bandas como The Clash e Sex Pistols.
O Capital Inicial, a Legião Urbana e a Plebe Rude que formam a santíssima trindade do rock de Brasília dos anos 80, integravam a famosa Turma da Colina, termo que se originou pelo encontro de jovens em uma área habitacional da Universidade de Brasília (UnB), apelidada de Colina. Estes encontros historicamente considerados como um dos primeiros movimentos culturais da cidade, norteavam as ações de combate ao tédio, em que a diversão passava pela audição do bom e velho rock’n’roll, principalmente por intermédio de fitas cassete e discos de vinil que chegavam na bagagem dos amigos que vinham do exterior, trazendo as novidades do rock inglês e estadunidense, despertando influências no comportamento, bem como na experiência musical, traduzindo as composições e letras famosas desde aquela época.
Em 1982, o Capital Inicial surgiu da fissão do lendário Aborto Elétrico, enquanto Renato Russo, aproveitava seus dotes para criar a Legião Urbana, os irmãos Lemos se juntariam a Dinho para criar o grupo que debutaria com o disco de estúdio quatro anos depois.
Faixa a Faixa, uma breve descrição:
1. Música Urbana
Clássica, naturalmente deve entrar no top five de um universo de canções que tenha Brasília como tema, encapsulando em seus versos a superação dentro de cotidiano que embala a frieza das cidades. Composta pelos irmãos Lemos e Renato Russo, também conta com a participação de André Pretorius, um nome importante nas aventuras do rock na cidade.
2. No cinema
A simplicidade da melodia e das palavras que versam sobre desencontros amorosos, servindo para apresentar uma canção inspirada e empolgante. Curiosamente, a estrofe: “Dentro do cinema minha paixão é um problema; Dentro do cinema o lanterninha também não tem pena de você; Será que ele já amou alguém? Eu não sei…“, fala sobre uma profissão extinta, em que uma pessoa portando uma lanterna, fiscalizava as sessões de cinema para controlar os arroubos da plateia, inclusive os amorosos.
3. Psicopata
Já ouviu falar em roda de pogo? É quando uma composição excita o ouvinte a ponto de sair pulando de forma tresloucada. Psicopata é clássica e te leva a polgar como em um rompante adolescente, graças a sua guitarra alucinada, a sincronia psicótica entre baixo e bateria e o vocal indignado, em uma letra maravilhosa que tem a impetuosidade como status quo.
4. Tudo Mal
Umas das melhores canções da MPB ao percorrer sobre um dos atos mais conturbados do mundo: o da separação amorosa. A autonomia do egoísmo saudável por exemplo em: “Quem sabe algum dia vamos entender o que passou, descobrir quem foi que errou“.
5. Sob Controle
Ao falar da falta de amor próprio é mais uma no álbum que discorre sobre este sentimento. Simples, compõe bem o álbum.
6. Veraneio Vascaína
A exemplo da terceira faixa, mais uma vez temos o estímulo para a roda de pogo em uma música forte, rápida e visceral que denuncia um tópico atual, o da violência policial. A Veraneio Vascaína do título refere-se à viatura policial mais comum da época. A Veraneio, fabricada pela Chevrolet, tinha na lataria as cores branca, preta, cinza e vermelho, coincidentemente, as mesmas do clube Vasco da Gama. Vale lembrar que é mais uma da partilha após o fim do Aborto Elétrico.
7. Gritos
Outra canção simples, mas interessante, pois trata de um tema em voga hoje, o da resiliência.
8. Leve desespero
Mais uma composição angustiantemente atual, pois tranquilamente poderia tratar de qualquer desdobramento em tempos de pandemia. A melodia da guitarra mantém o alinhamento à angústia do vocal em versos autorreflexivos tais como: “Eu não consigo mais me concentrar, eu vou tentar alguma coisa para melhorar, já estou vendo TV como companhia. Sob um leve desespero, que me leva, que me leva daqui…” Tocante!
9. Linhas Cruzadas
E o amor volta em mais uma faixa, desta vez apresentando a desilusão como tópico. Uma composição que investe na simplicidade eficiente, que em conjunto com a ótima letra, alcança o status como uma das melhores canções ‘lado B’ da banda.
10. Cavalheiros
A guitarra dá o tom em outra música ligeiramente atual, pois versa sobre a covardia de quem não combate absurdos como o racismo e o preconceito. A excelente letra valoriza a penúltima experiência do álbum.
11. Fátima
A derradeira faixa é a terceira da herança fruto da parceria irmãos Lemos e Russo. Apocalíptica, pois descreve outro tema atual, o de um mundo sofrido graças as falcatruas e mazelas causadas por poderosos envolvidos na política e/ou religião. Uma composição grandiosa que entrega uma das mais belas canções do rock nacional de todos os tempos. Clássica! #SimpleAssim
Aumente o volume e ouça o álbum no player abaixo:
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