Alerta de spoiler! Apesar de ser um documentário, prossiga por sua conta e risco.

Fui ao cinema sabendo que não era nenhuma super produção no estilo dos documentários do Morgan Spurlock ou do Michael Moore, mas também com a certeza de que o orçamento baixo não reduziria o peso do conteúdo que se dispunha a exibir. O documentário Rock Brasília – Era de Ouro é emocionante, revelador, engraçado e extremamente nostálgico. Se você é de Brasília, cresceu ou viveu aqui, vai se maravilhar ao ver imagens de uma Brasília setentista e oitentista, vivendo ainda uma tensão pós-ditadura que parecia não ter fim.



Algumas cenas foram gravadas para simular as reuniões da turma de Renato Russo à beira do lago, enquanto Dinho Ouro Preto recitava trechos do livro “Renato Russo – O filho da revolução”. Este livro, inclusive, pautou bastante o documentário (valeu pela dica, Suzi!). Fato é que esta dramatização era completamente ofuscada por cada entrevista de época com os integrantes das bandas e apresentações do Aborto Elétrico e do Renato como o “trovador solitário” no meio da rua, Capital Inicial no Chacrinha (!!) e Plebe Rude no auge do sucesso se apresentando na televisão.

As entrevistas foram muito bem montadas, construindo uma linha do tempo com os integrantes todos interligados. Um grupo que tocava e um dos fãs veio a se tornar um dos integrantes, que conhecia o vocalista de outra banda, que influenciou a terceira. Não vou detalhar porque essa é uma das surpresas do documentário. Todos tem a visão de que o rock de Brasília era feito por uma garotada que se conhecia e ficava debaixo do prédio conversando. E era! Mas toda a interconectividade é bem menos óbvia do que parece.

Em detalhes, os entrevistados vão contando como se conheceram, como se formaram as bandas e suas histórias de sucesso e fracasso, tenham sido causados por eles próprios ou conjuntura política e social da época. Todo o suposto glamour cai por terra ao tomarmos conhecimento da precariedade da época, tanto estrutural como econômica. Quem por acaso saberia que as bandas e gravadoras também foram vítimas do Plano Collor e da hiper inflação do governo Itamar pré-real? Como imaginar um país que tinha Capital Inicial no Chacrinha e “badernaços” em Brasília, em que viravam ônibus e ateavam fogo?

Entre fatos e imagens históricas impressionantes, dessas que não se encontram no YouTube, vemos o nascimento, crescimento e morte do rock brasiliense, até a morte de Renato Russo, que mudou a vida de todos os envolvidos. O Capital Inicial se re-ergueu como homenagem depois do baque, a Plebe Rude deu seu tempo pela deprê momentânea e os Paralamas do Sucesso seguiram como banda de origens brasilienses.

O mais triste do documentário é ver como o mercado influencia de forma negativa os rumos que a história da música toma. Antes do famigerado “jabá”, as rádios tocavam o que queriam e os trendsetters eram pessoas envolvidas com a cena musical, conheciam de música, não de números. O público buscava a identificação, encontrava e dizia o que queria ouvir, não apenas absorvendo o que enfiavam goela abaixo deles. A atitude e a mensagem eram os valores da música, não o apelo comercial da super exposição forçada e melodias plastificadas de hoje.

Documentário recomendadíssimo e quase obrigatório. Podem ir sem medo e com lenços.

Seguem os horários e salas que exibem o documentário.

Arcoplex Águas Claras - 13:30 15:40
Cinemark Iguatemi - 19:40
Cinemark Pier 21 - 16:10 21:20
Cinemark Taguatinga - 21:30
Liberty Mall - 14:40
ParkShopping - 14:00 18:45
Pátio Brasil - 14:00 18:50
Fonte: CorreioWeb