Artigo por Luciano Lima.
Nunca esqueço que vivemos em sociedade inquisidora, onde a desgraça alheia é o que rende as melhores polêmicas e manchetes. Fiquei muito chateado com muitas coisas que foram ditadas e escritas depois que a matéria sobre o ex-baixista da Legião Urbana, Renato Rocha, foi ao ar no último domingo, no programa Domingo Espetacular, da TV Record. Gostaria de dizer que temos o direito de ficar tristes com a situação do Renato Rocha. Temos direito de ficar indignados e consternados em saber que o baixista de uma maiores bandas da história do rock brasileiro mora nas ruas.
Lembro com saudades daquele cara de poucas palavras, que gostava de usar suspensório, no palco do Mané Garrincha lotado. Aliás, aquele show do Legião Urbana, em 18 de junho de 1988, que acabou em uma tremenda confusão, foi recorde de público. Nunca uma banda brasileira tinha colocado tanta gente em um lugar.
A matéria da TV Record foi sensacionalista? Imediatamente meio veio na memória a história do Raul Seixas. Esquecido, doente, sem gravadora e com dificuldades financeiras, Raul Seixas foi convidado pelo ex-Camisa de Vênus e conterrâneo Marcelo Nova para fazer algumas participações em seus shows. O projeto deu tão certo que eles gravaram um disco e fizeram mais de 50 apresentações. Após a morte de Raul Seixas, alguns amigos, jornalistas e parentes chegaram a insinuar que Marcelo Nova foi sensacionalista, oportunista e agravou mais ainda o estado de saúde do “maluco beleza”. E digo: se não fosse Marcelo Nova o Raulzito tinha morrido esquecido e na miséria.
Os pobres de espirito podem até dizer que a matéria da TV Record com o Renato Rocha foi sensacionalista. No entanto, eu juro que fiquei muito emocionado e torcendo para que alguém faça alguma coisa para tirá-lo daquela situação deprimente. Não nego que só me causou estranheza o fato do Renato Rocha elogiar o Renato Russo. Ele nunca fez isso depois de sua saída da banda. Mas foi só um detalhe diante do que nossos olhos incrédulos assistiam.
Renato Rocha, conhecido como Negrete, sempre foi, em todos os sentidos, o mais frágil dos integrantes da Legião Urbana. Foi um cara que também foi vitima de um meio cruel e que não é para todo mundo: o meio artístico. Ele foi vitima da solidão, de uma banda que não era unida e dos “amigos da hora”, aqueles que só aparecem quando você é famoso para te oferecer facilidades, drogas, álcool e para te consumir.
O Dado Villa-Lobos e o Marcelo Bonfá têm culpa? Claro que não! Mas juro que me assustei com a frieza, a amargura e arrogância com que eles trataram o caso. Me chateou mais ainda o comentário do vocalista do Detonautas, Tico Santa-Cruz (ele se acha o cara mais foda do planeta!), que disse: “Renato (Rocha) não era santo, tinha milhares de defeitos”. Que merda! E qual dos legionários não tinha defeito? E nós?
Conheci pessoalmente o Renato Rocha logo após a sua saída da Legião Urbana e percebi que às drogas e o álcool tinham realmente consumido o baixista. Mas eu pensava que era somente uma recaída e que ele daria a volta por cima. Ele ficou por um tempo tocando em bandas de Brasília. É verdade que nunca conseguiu se dedicar a nenhuma delas. Mas foi um choque pra mim, depois de um tempo sem vê-lo, saber que ele virou mendigo. Eu chorei em ver um dos meus ídolos naquela situação. Foi chocante a imagem dele nas ruas, fãs o reconhecendo e pedindo autógrafo. Fiquei indignado em saber que o ECAD (que já deveria ter sofrido uma intervenção federal) paga R$ 900 por mês para o baixista da Legião Urbana, a banda brasileira que mais vendeu discos na história. Vale lembrar que ele participou dos três primeiros discos, exatamente os que mais venderam.
Fico na torcida para que a TV Record e outras emissoras abusem no sensacionalismo. Com certeza é muito melhor que morrer abandonado. Ele pode ter cometido seus erros, mas não é menos filho de Deus que ninguém. O resultado final tem que ser um só: a recuperação do ser humano e do artista Renato Rocha.
Luciano Lima é Historiador, Jornalista e Agitador Cultural
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