Dando (desde que não seja eu quem dê), seqüência no questionamento do blogueiro Daniel Farinha, Qual o Disco Mudou a Sua Vida?. De maneira brilhante ele colocou (por favor, sem indecências) “Músicas Para Acampamentos”, primeiro trabalho ao vivo da Legião Urbana.
Eu sou suspeito para falar, pois não sou fã da Legião Urbana, sou um Legionário, um fã incondicional, que nem liga quando alguém não gosta de Legião, não me atinge mais…
E com certeza o disco que mudou minha vida foi da Legião. O outro blogueiro Cristiano Castor Troy não gostou da escolha, pois acha que este disco, escolhido por Daniel Farinha é um dos piores da Legião, quiçá até dos anos 80/90.
Antes de começar a dar nome aos bois, não estou falando do Raffael (Vulgo: Boi, mas que nome singelo, com dois “efes”), quero deixar claro que o disco que pode ter mudado a vida de alguém, não é o melhor disco da banda, ou o mais vendido, ou o mais badalado, ou o mais qualquer coisa, para ninguém, a não ser para a pessoa que teve sua vida mudada por causa deste trabalho.
E isto depende do momento, do contexto, da maturação, fisiológica e psicológica, talvez o disco que mudou sua vida, faça anos que não seja reproduzido na vitrola/disc man/ MP3/MP4/iPod/toca fita, mas está guardado no coração, na alma, na mente, nas emoções, nos sentimentos, que o simples acorde de qualquer uma das músicas remete seus pensamentos a um longícuo (acho que é assim que escreve) tempo em que se queria muitas coisas e se pensava muito mais…
O disco que mudou minha vida foi… lógico, Legião Urbana “As Quatro Estações” (NÃO!!!!!!! Não é o disco da Sandy e Jr, e que esta piada não se repita mais…), lançado em 1988 foi um disco que marca a carreira cíclica da Legião, pois se o Primeiro disco (Legião Urbana, 1984) tinha sido um disco de pegada forte e pra fora, o segundo trabalho (Dois, 1986), foi um trabalho mais intimista, talvez o melhor de todos da trupe do cerrado na opinião de alguns muitos, continuando o ciclo o terceiro Álbum (Que País é Este – 1978-1987, 1987), foi de longe o disco mais Punk da Legião, com sobras do Aborto Elétrico, antiga banda de Renato Russo, teve até algumas faixas quando Renato Russo se arriscou sozinho após sair do Aborto Elétrico, e adotou o pseudônimo de “O Trovador Solitário”, que rendeu bons frutos, então, dando seqüência aos discos estravasadores (sic) e intimistas da Legião, surge “As Quatro Estações” (Quem vier perguntar de Sandy e Jr de novo, vai ouvir o disco deles inteiro e o do Los Hermanos como castigo)…
Quando este disco foi lançado eu tinha 12 anos (nossa como faz tempo), ouvi muitas músicas antes de comprar o famigerado, já conhecia os hits tocados nas rádios e tudo mais, mas ter o disco em casa, ler as letras, e os recados que sempre viam nos discos da Legião como “Ouça no Volume Máximo” ou ainda “Legio Urbana Omnia Vincit” (Legião Urbana Vence Tudo ou Legião Urbana Vence Sempre, dependendo da fonte)!
Ouvir cada faixa tendo o controle de voltar e ouvir de novo, degustar cada palavra, cada frase, redescobrir o disco anos mais tarde de maneira mais madura, responsável e com algumas cicatrizes que a vida nos deixa com o passar dos anos.
Sou tão ligado a este disco que tatuei no braço direito o violão da capa, na verdade cada faixa me remete para uma situação, e cada vez que eu ouço descubro alguma coisa diferente que não tinha percebido antes.
O Disco começa com Faixa 01: Há Tempos, uma música que fala algumas coisas que achei apenas divagações sobre algo que não deu em nada, mas depois vejo que é mais profunda, talvez fale sobre drogas e alguém tentando se livrar do poder destrutivo que arrasa com a pessoa, mas com certeza “…disciplina é liberdade, compaixão é fortaleza, ter bondade é ter coragem, Ela disse: lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa…” é uma ironia total com o que eu não sei, talvez governo, família, igreja ou coisa que o valha, foi um grande hit, tocou pakas nas rádios e tudo mais, encheu um pouco, as vezes até pulo, mas com certeza toda vez que escuto acompanho a música e imagino o que queria ser dito com “…só o acaso estende o braço a quem procura abrigo e proteção…”, sempre achei que ninguém lhe protege a não ser você mesmo, todos querem algo em troca, outra coisa que me chamou atenção foi a conjugação do verbo em segunda pessoa “Tu”, numa aula de português a professora tinha falado como os autores erram na conjugação e tudo mais, pela primeira vez olhei diferente para esta música, foram muitas as vezes que isto aconteceu…
Na seqüência Faixa 02: Pais e Filhos, talvez a música mais tocada, mais conhecida, mais amada, mais tudo da Legião, está com certeza encheu o saco de tanto que tocou, tudo bem esta música é da hora mesmo, mas hoje gosto mais da versão ao vivo no “Música para Acampamento”, já citado em outro post pelo Daniel Farinha, primeiro disco ao vivo do grupo, que tem “Stand By Me” de bônus… Talvez tenha a melhor frase do disco “…É preciso Amar as pessoas como se não houvesse amanhã, por que se você parar para pensar na verdade não há…”, não tenho nada contra hits, mas ela não entra na minha lista de 10 mais da Legião pela quantidade de vezes que ouvi, fora as versões bizarras que temos que ouvir por ai de duplas horríveis como “Paratudo e Jurebeba”, “Pingue e Pongue”, “Atchim e Espirro”, entre outras bizarrices, o ápice seria a banda de pagode (isto é o que eles dizem), “Batom na Cueca” (este é realmente o nome de uma banda), gravar Pais e Filhos, graças aos deuses este Armagedon não se confirmou, já pensou a onda de Arakiri (ritual de suicídio dos samurais), que iria ocorrer por este meu país. Mas salvo estas anomalias musicais é uma música para quem gosta de métrica, melodia e boa junção entre a cozinha (Baixo e Batera) com a boa e velha guita, é um prato feito, não deixando claro para quem está ouvindo se é um rock, um blues, um folk ou os três juntos… Ou na verdade “Tudo ao Mesmo Tempo Agora, Uma Coisa de Cada Vez” (como diria os Titãs)! Além de ter a frase “…Você diz que seus pais não entendem, mas você não entende seus pais, você culpa seus pais por tudo, isto é absurdo, são crianças como você, o que você vai ser quando você crescer…”, toda vez eu ouço esta frase entendo algo diferente. Viagem total!
Continuando Faixa 03: Feedback Song For a Dying Friend, primeira música estrangeira que fiz questão de traduzir, mas aprendi algumas coisas, a língua influência a letra, ou seja, em Inglês é uma coisa, em Português é outra, nem ruim nem bom, apenas diferente, como a música é uma linguagem universal é só se deliciar com as viagens musicas desde a introdução de gifs de guitarra, ou cítaras elétricas, ou sei lá o que é, fazendo base para a entrada nervosa das guitas junto com a batera, talvez a música mais viagem do disco, que depois foi confirmada pelo Renato que realmente fala sobre o que o título da a entender, Canção de Retorno de um Amigo Morto (Numa tradução bem livre)… É música para deixar a viagem rolar, com ou sem acompanhamento químico, ela, para mim já é um poderoso alucinógeno com suas quebras de ritmos e até música árabe, ou seja, lá o que for aquilo no meio da música, depois de entender um pouco, eu disse um pouco da letra, pense bem o que você faz com você mesmo.
Na continuação Faixa 04: Quando o Sol Bater Na Janela do Seu Quarto, eitá música de título grande, … Uma balada, para acalmar a viagem da faixa anterior, uma cobrança para si mesmo, não sei se é do Renato ou do Marcelo Bonfá (batera e também letrista), as pessoas pensam que só o Renato escrevia, ficaria surpresa se soubesse o quanto Bonfá (Bateria) e Dado (Guitarra) contribuíam para letra e melodia… Esta canção é realmente uma música de auto ajuda (sem ser pejorativo), explica que não importa a barra, tudo é possível, Renato nesta época já sabia que era soropositivo? Não sei, mas parece que sim, com estas duas músicas na seqüência, o amigo da Faixa 03 morreu de complicações gerada pela AIDS… Uma música que só fui descobrir depois que comprei o disco e aprendi a letra de primeira, facinha, sem trava língua, sem armadilha, simples e genial, como a maioria dos gênios sabem ser…
Quase na metade do disco temos a Faixa 05: Eu Era Um Lobisomem Juvenil, está música é outra que ouvi no rádio, aprendi a cantar depois de algumas vezes ouvidas e repetidas, é a letra mais intimista, uma auto revelação, de como se sentia quando era um adolescente, eu hoje também me considero um Lobisomem Juvenil quando tinha 14 anos de idade, o Renato sentiu o que muitos jovens entre 14 e 16 anos de idade já sentiram alguma vez nesta idade “…Se o mundo é mesmo parecido com que vejo, prefiro acreditar no mundo do meu jeito, e você estava esperando voar, mas como voar até as nuvens com os pés no chão?…”! Se a maioria dos “jovens” de hoje tivessem um pouquinho mais de cérebro ativo, poderiam procurar algumas respostas nesta música e letra, mas não é só para eles, qualquer um que não estiver entendendo algo na vida tente interpretar “…Qual foi a semente que você plantou, tudo acontece ao mesmo tempo nem eu mesmo sei direito o que está acontecendo e daí, de hoje em diante todo dia vai ser o dia mais importante…”, é colocar a bebida favorita ao lado, no meu caso Guaraná Antarctica e deixar rolar… No disco “V” a Legião grava Teatro dos Vampiros, que eu não sei porque cargas d’água eu acho que é a continuação de “Eu era um Lobisomem Juvenil”…
Para passar da metade do disco temos na Faixa 06: 1965 (Duas Tribos), a Legião tinha dito na divulgação deste disco que queriam ter uma música com o título entre parênteses, depois virou até moda com outras faixas em outros trabalhos, mas está faixa é a mais punk deste disco, porrada na batera, guita gritando e atitude na letra, é a Legião mostrando que não tinha esquecido que era uma banda de Rock!!!!! Ou melhor de BRock, com protesto, auto crítica, pegada, e tudo que um power trio (guita, baixo e batera), tem direito e pode fazer… E a música parece ser um marco no disco, como quem diz “daqui por diante pode ter tristeza, mas nada de choro…”. Tem gente que cria uma lista das 10 mais da Legião e inclui esta faixa só pela atitude, eu colocaria até por outros motivos, porque é boa e da vontade de abrir uma roda e gritar muuuuuuuuuuiiiiiiiiiittttttooooooooo “…o Brasil é o país do futuro, o Brasil é o país do futuro, o Brasil é o país do futuro, em toda e qualquer situação, eu quero tudo pra cima, pra cima.” porque eu sou da geração que cansou de dizer e ouvir que o Brasil é o País do Futuro, eu quero o Brasil como o país do presente, pelo visto nem tudo mudou… Daniel Farinha tem esta faixa como a favorita do disco.
Na Faixa 07: Monte Castelo, é outra que tocou até derreter o vinil, na época não era CD e sim o bom e velho LP bolachão, pela história que eu tenho como oficial, Renato Russo chegou num hotel pegou a bíblia para ler aleatoriamente, e caiu na Segunda Carta aos Coríntios, nem ele sabia o motivo pelo qual fez isto, parece que numa revista, no mesmo hotel tinha os versos do soneto de Camões e a luz desceu até a mente inquieta e deu no que deu, uma música de amor sem sofrimento, que a Legião sabia cantar, amor faz nascer e não morrer nem matar, pode até enjoar, mas toda vez que ouve os acordes acompanha a letra, um amor divino pelos versos da bíblia e profano pelos versos de Camões, que claro precisava de um gênio para poder ligar estes dois mundos paralelos que sempre se encontram quando estamos aptos para receber e fornecer o melhor que nós temos.
A Faixa 08: Maurício, foi uma música que demorei a entender, somente alguns bons pares de anos mais tarde, porque estava me deliciando com as mais tocadas nas rádios, mas é uma música incrivelmente linda e tocante, é a música que eu tenho menos informação, apesar do título sugerir um romance homossexual parece me que na verdade é a perda de um amigo, morte ou sumiço desconhecido por este blogueiro que vos escreve, mas na verdade o que mais me chama a atenção numa boa letra de música é como você pode sugerir a sua interpretação totalmente diferente do que o autor queria dizer, na minha opinião isto é fantástico, várias visões de uma mesma situação. Eu gosto desta música porque fala de uma separação que deixou marcas, mas que vai ser superada e o verso final “…eu vi você voltar para mim.”. Não é necessariamente uma volta, e sim as lembranças boas estarão comigo aonde quer que eu vá (sem imitação dos Paralamas!). No fim, top 3 do disco sem nem pestanejar. Realmente vale a pena ouvir no volume máximo.
Na Faixa 09: Meninos e Meninas, Renato escancara a sua homossexualidade de maneira direta “…gosto de meninos e meninas…”, que depois foi confirmada numa entrevista que se não me engano foi para a antiga Trip, em que ele mesmo utiliza o verso da música citado aqui e diz: “O que que tem?”! Música dançante e com letra fácil de gravar, boa; mas é que depois veio uma versão numa apresentação em PoA-RS (Porto Alegre-RS), que o Renato mudava a letra da música e fazia uma homenagem a cidade, que tocou mais um quilo de vezes na Transamérica que tinha esta versão exclusiva, e quando estávamos numa roda de violão (ou não) e cantávamos esta música vinha um desinfeliz-da-oréia torta para cantar “…gosto de Porto Alegre e São Sebastião…” e a pessoa ficava irritada se não cantasse assim, será que este santo citado nesta parte da música é em referência ao nome da cidade satélite de Brasília? Que não existia na época! Ele era tão visionário assim? Que sabia que o “Faz Trem Bala”, já iria unir Brasília em Goiânia??????????? Mais uns dois mandatos no governo e ele consegue. Mas a música é mais que isto, espertamente veio no fim do disco entre duas músicas que não se tornaram hits, mas estão no top 3 do disco com certeza, assim ele divulgava o disco, deixava ele virar sucesso e depois lançava a bomba quando o disco estava começando a cair nas vendas. Gênio de marketing também, não é mérito nem demérito, apenas uma peculiaridade.
Na Faixa 10: Sete Cidades, na minha opinião a melhor música do disco, a introdução de gaita é algo fora do normal de tão boa, é tudo diferente na melodia, mas parece que se não estivesse lá faltaria alguma coisa, o Titãs fez uma versão que ficou boa, mas a original é fantástica, fala da ausência de alguém que leva junto um pedaço da pessoa que fica, mas que já se acostumou, não quer dizer que esqueceu, apenas é mais um dia sem a pessoa, não morre, mas a vida segue, menos alegre, mais com novas alegrias, não que as sensações serão substituídas, mas simplesmente seguirá. Não deixe de ouvir esta faixa de maneira alguma, e presta atenção na gaita no começo e no fim da música, Paulo Miklos dos Titãs fez uma boa versão com seu instrumento de sopro, na versão gravada pelos Titãs. Valeu Titãs! E é claro, valeu Legião!
Para terminar o disco temos a Faixa 11: Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar, é apenas uma definição de que quando amamos, podemos tudo, mas, a vida não pode parar se o amor não segue junto, temos tanto poder quando amamos e não podemos deixar que este poder não seja usado para coisas boas, como a própria felicidade, a felicidade não está ligado a decisão de uma outra pessoa, nós temos o poder de decidir se queremos ser felizes ou não, é disto que trata a música, de maneira equilibrada entre a cozinha (baixo e batera), guita e outros instrumentos musicais. A citação religiosa até hoje me intriga, se alguém tiver alguma idéia, por favor entre em contato. Qual o motivo de ter “…cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo, tende piedade de nós, cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo, tende piedade de nós, cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo, dai-nos a paz.!” Se alguém tiver alguma idéia por favor contato.
Bem, esta é minha história e o disco que mudou minha vida!
E você? Qual disco mudou sua vida?
Salve todos!
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