Há algumas semanas, o Haiti e o mundo foram surpreendidos por uma grande catástrofe natural. Um terremto de grandes proporções, atingiu em cheio o Haiti na sua capital, Porto Princípe.
Milhares de mortos. Alguns prognósticos apontam para 100.000 e outros para até 200.000 vítimas fatais. Populações e governos de todo o mundo se solidarizam com o povo haitiano e começam a se mobilizar para mandar mantimentos e ajuda humanitária em geral.
Entretanto, antes do terremoto, a população haitiana estava sofrendo um grande genocídio. E um genocídio não por um desastre natural. Mas pelas mãos do próprio homem.
Em 2004 o então presidente, Jean Bertrand Aristide, sofre um golpe de estado orquestrado pelos Estados Unidos da América. Tanto que Aristide foi retirado do país e mandado para a África por militares americanos. Motivo: Aristide não rezava a cartilha americana e apesar de suas convicções de esquerda, era mais próximo de Bill Clinton e pouco ou nada simpático às idéias de George Bush, então presidente americano.
Mas os haitianos não se deram por rogados e começaram a se manifestar reivindicando a volta de Aristide ao poder. Bush então, pediu ajuda à ONU para que fossem mandados soldados de vários países para nada mais nada menos, reprimirem essas manifestações. Pediu também ao Presidente Lula que não só o Brasil atendesse o seu chamado e o da Organização das Nações Unidas, como também liderasse as tropas no referido país.
Portanto, estou aqui afirmando, que ao contrário da idéia que é passada pelo governo brasileiro, como também pela grande mídia nacional, as tropas da ONU (Minustah) não estão lá para reprimirem a ação de gangs e criar meios para se proporcionar “estabilização econômica” no país caribenho, a versão oficial nada mais é do que uma farsa. As tropas estão lá, para isto sim, reprimirem os movimentos populares pró-Aristide e contribuírem assim para o sucesso do Golpe de Estado dado por Bush. Nossos soldados estão então, servindo apenas como “bucha de canhão” para os interesses americanos naquela nação. O Atual presidente, René Préval, é um simpatizante do então presidente Bush. Mas também é bom que se diga, que o governo brasileiro também tem seus interesses. No caso do Haiti, o real interesse do Brasil é agradar à ONU para que o país consiga uma cadeira no Conselho de Segurança da organização. O problema é que isto está sendo às custa da derrubada da democracia e de sangue do povo haitiano.
Apresento aos caros leitores do NRDR, um vídeo que mostra cenas da ação das tropas da ONU, onde são cometidos abusos contra cívis inocentes, mulheres e crianças inclusive e desarmados. Imagens estas que portanto provam o que eu estou a lhes afirmar. Vale dizer que as imagens são de 2005 e 2006, ou seja, antes do terremoto.
O vídeo está disponível no Youtube e está dividido em duas partes. As imagens foram feitas pelo jornalista haitiano Jean-Baptisti Ristil. O documentário foi montado pelo jornalista Kevin Pina.
No documentário que também está disponível em DVD, aparecem imagens de manifestações a favor de Aristide. Manifestações estas realizadas em Cite de Soleil, bairro de Porto Princípe. Apenas dois dias depois, os soldados da ONU invadem a localidade e saem metralhando todo mundo. E tudo isso aconteceu em mais de uma oportunidade. O motivo utilizado pelas Nações Unidas é de que estavam ali atrás de membros de gangs. Mas será que todos ali são criminosos? Isso também é questionado no vídeo, inclusive por um cidadão haitiano que não quis se identificar.
Tenho dito aqui, que sou diretor do Sindicato dos Servidores Públicos Federais, o SINDSEP. Em agosto de 2009, recebemos no sindicato o advogado haitiano David Josué. O referido advogado tem trabalhado denunciando o abuso cometido pelos militares em seu país. O DVD foi exibido no auditório do sindicato e tal evento foi divulgado através do nosso jornal. Vários foram os servidores que estiveram presentes no evento. No dia seguinte, o acompanhei no Congresso Nacional pois haveria ali, mais precisamente no Senado, uma Audiência Pública na Comissão de Relações Exteriores da citada casa, onde denunciaríamos essa verdadeira matança. O Senador Eduardo Suplicy, ao tomar conhecimento do vídeo, ficou assustado e como é membro de tal comissão, nos apresentou aos demais senadores em plena audiência, onde também foi apresentado o vídeo que cada um de vocês tem acesso agora.
Mas talvez vocês perguntem: Mas será que os meios de comunicação não divulgam porque não sabem do que está acontecendo? Respondo: Não divulgam por razões políticas mas nunca por desconhecimento dos fatos. Tanto é verdade que eu estava chegando no gabinete do referido senador quando um importante canal de televisão estava ligando para obter uma cópia do DVD. A funcionária que atendeu a ligação me disse que iria viabilizar a cópia para que no horário combinado eles o pegassem com ela.
O vídeo foi traduzido para o português e em momentos onde populares fazem uso da palavra, aparecem legendas.
Esclareço, para os devidos fins, que o vídeo, tanto em sua primeira parte como em sua segunda, tem imagens fortes.
Quem se interessar e quiser saber mais, bem como obter uma cópia do DVD, apesar de estar disponível no Youtube, deixo o meu telefone: 61-9223-7782.
Primeira Parte: http://www.youtube.com/watch?v=0VUrXB2Yuf0
Segunda Parte: http://www.youtube.com/watch?v=WGe1l6m15SE
Haiti – Um breve Histórico
Em seus primórdios, o Haiti era ocupado por índios arauaques, quando, em 1492, Cristóvão Colombo chegou ao país. O espanhol batizou o lugar de Hispaniola. Os índios foram escravizados e a população nativa foi praticamente dizimada.
Em 1697, através da assinatura do Tratado de Ryswick envolvendo Espanha e França, a parte ocidental da ilha, foi cedida à França, recebendo o nome de Saint Domingue, onde houve o cultivo de açúcar com a utilização de mão de obra escrava africana.
Porém, os escravos africanos, influenciados pelos ideiais da Revolução Francesa, rebelaram-se em 1791, liderados pelo ex-escravo Toussaint L’Ouverture. A abolição da escravidão ocorreu em 1974, Toussaint foi nomeado governador vitalício em 1801. No entanto, uma expedição francesa encarregada de reconquistar a ilha prendeu Toussaint, que fora enviado para França, onde morreu em 1803. Jean-Jacques Dessalines, ex-escravo, deu continuidade ao movimento de resistência.
O Haiti obteve sua independência no dia 1° de janeiro de 1804, passando assim a ter o nome atual. Foi a primeira República Negra das Américas e o primeiro país latino-americano a se tornar independente.
A elite, composta por mulatos, ficou insatisfeita com a nova política instalada no país, e, em 1806, tomou o poder após o assassinato de Dessalines.
Em 1957, teve início o período mais complicado da história do Haiti. Naquele ano, o médico François “Papa Doc” Duvalier foi eleito presidente da nação, instalando um regime ditatorial baseado na repressão militar que perseguiu muitos opositores, inclusive a Igreja Católica. Sua guarda pessoal, os tontons macoutes (bichos papões) eram os responsáveis pelos massacres. O assassinato de Papa Doc ocorreu em 1971. Seu filho Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, assumiu a presidência do país, dando continuidade às perseguições. Os protestos populares contra o regime ditatorial aumentaram, e Baby Doc fugiu para a França em 1986, deixando no poder uma junta governativa chefiada pelo general Henri Namphy. Com nova Constituição, realizaram eleições presidenciais livres em 1990, a maioria dos eleitores (67%) optou pelo padre esquerdista Jean-Bertrand Aristide. Porém, no mesmo ano, Aristides foi deposto por um novo golpe militar e a ditadura foi novamente implantada no país. A Organização das Nações Unidas (ONU) impôs sanções econômicas ao Haiti para forçar a volta de Aristide.
Somente em 1994, Aristide retornou ao cargo de presidente do Haiti. Entretanto, os problemas no Haiti persistiram, fazendo com que Aristides fugisse para a África em fevereiro de 2004 e, atualmecontinuaram, o país sofre intervenção internacional pela ONU. Além de todos esses entraves políticos, a população haitiana enfrenta vários obstáculos de ordem socioeconômica. O Haiti é o país economicamente mais pobre das Américas, cerca de 60% da população é subnutrida e mais da metade vive com menos de 1 dólar por dia. Essa parcela da população vive abaixo do nível de pobreza.
Abraços a todos;
Carlos Henrique.
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