A cultura pop universalizou e eternizou os anti-heróis fincando a bandeira dos vigilantes na nossa vida. Personagens celebrados como Batman, Wolverine, Deadpool e Justiceiro que protagonizam excelentes HQ’s e ótimas adaptações em produções de vídeo tem a partir de agora, a companhia de mais um nome, a figura brutal do brasileiro conhecido por “O Doutrinador”.

A obra “O Doutrinador” já nasceu polêmica, pois trata de um tema espinhoso para nós brasileiros: a corrupção. A polêmica se dá justamente na forma escolhida pelo vigilante para extirpar a roubalheira: o assassinato de políticos e empresários corruptos.

O personagem do Doutrinador, criado em 2008, por Luciano Cunha, ganhou notoriedade com as manifestações de 2013. O grito que ecoava das ruas em conjunto com as redes sociais contribuíram para a divulgação das revistas em quadrinhos, que teve seus volumes esgotados.

Tanto sucesso – de público e crítica, inclusive na ‘gringa’ – atraiu a atenção de Gustavo Bonafé, que assinou a direção, e também de Marcio Fraccaroli, Sandi Adamiu, Bruno Wainer e Renata Rezende que assumiram a produção do longa-metragem.

Com as contribuições de Mirna Nogueira, LG Bayão, Rodrigo Lages, Denis Nielsen, Guilherme Siman, Gabriel Wainer e Luciano Cunha no roteiro, “O Doutrinador” passou no teste de fogo, o primeiro nacional de ação, inspirado em um herói de quadrinhos inteiramente brazuca que tem tudo para se tornar um marco no gênero.

Pelas impressões dos jornalistas, o único ponto de divergência no roteiro refere-se ao primeiro ato, uns consideraram rápido demais, outros já acharam lento. No meu ponto de vista, serviu na medida, um aperitivo e tanto para os dois próximos atos que beiram a perfeição.

Quando o agente federal Miguel (Kiko Pissolato) está a serviço de suas atribuições como anti-herói, os corruptos se dão muito mal nas mãos d’O Doutrinador. A obra de ficção funciona como um excelente entretenimento, mas também nos leva a reflexão, afinal, por que toleramos tanta roubalheira? Por que não fiscalizamos e cobramos transparência e lisura dos políticos? A gama de questões que nos invade acerca do tema, e a provocação latente e visceral que a história propõe, fez com que a distribuição do filme para os cinemas fosse adiada para após o fim das eleições.

É preciso ter em mente que um dos maiores erros que o espectador pode cometer é buscar 100% de originalidade em “O Doutrinador”. Longe de ser um defeito, pelo contrário, o personagem além dos vigilantes citados, lembra, por exemplo, o policial de “Stallone Cobra” que pronunciava a seguinte frase aos criminosos: ‘você é uma doença e eu sou a cura’. É um fato assumir que nem os filmes de Hollywood se furtam de ‘chupar’ referências uns dos outros. Apenas vá ao cinema e divirta-se! #simplesassim

Mesmo com pequenas deficiências decorrentes da falta de investimento, principalmente quando se trata de filmes nacionais de ação, “O Doutrinador” sai-se muito bem nos quesitos técnicos, especialmente no visual, apresentando ótimas tomadas de câmera e uma bela fotografia; vale citar também o ótimo elenco e a trilha sonora de peso, tendo canções como “Black Hole Sun” (Soundgarden), e “Cobra”, da banda norte-rio-grandense Far From Alaska, que além de fodástica, pode ser considerada a música tema do longa-metragem.

A indústria cinematográfica brasileira acostumada em investir apenas nas comedias descartáveis que ostentam em seus papeis principais atores, atrizes e youtubers da moda, quem sabe não vislumbra a oportunidade perdida ao negar continuidade ao gênero de ação que obteve sucesso em títulos como “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”? Precisamos avançar, pois uma coisa que não falta ao nosso cinema é qualidade em todas as frentes.

Exemplarmente melhor que a maioria dos filmes de herói da DC Comics, o longa-metragem “O Doutrinador” é uma grata surpresa e caso tenha um plano de marketing eficiente, poderá alcançar êxito na bilheteria, contribuindo para oxigenar e reinventar as próximas produções nacionais.

Em uma rota divertida e com poucos percalços, confiro a “O Doutrinador” nota 8.7.

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