A produção “Não! Não Olhe!” chega aos cinemas brasileiros para intrigar mais uma vez os espectadores de Jordan Peele, diretor e roteirista. A terceira incursão de Peele na direção apresenta uma fórmula solidificada em suas duas primeiras obras: “Corra!” (2017) e “Nós” (2019), em que o cinéfilo adentra em um universo particular sem saber o que esperar.
O diretor que emergiu no gênero da ficção científica, suspense e horror, após uma carreira de sucesso construída na categoria da comédia – fosse escrevendo ou atuando em diversas mídias –, está trilhando um caminho ímpar não somente na linguagem cinematográfica, mas também na forma genial como conduz a plateia a uma reflexão ao denunciar a sociedade pela má conduta em relação ao racismo e/ou em outros tópicos pesados e preconceituosos.
Em “Não! Não Olhe!“, o ativismo continua pungente e replicado de uma forma deliciosamente fantástica, em que Peele aguça a curiosidade com pintadas de simbolismo graças a um experimentalismo desafiador, negando-se a entregar o óbvio e respostas fáceis.
Às vezes tenho a impressão que o diretor faz filmes para si e não para o grande público, e isso não é um defeito, longe disso, pois todos se aproveitam desta instigante visão, principalmente ao final da projeção, ao tentar digerir e decifrar tudo que nos foi exibido.
A intricada colcha de retalhos passeia por temas e fundações estabelecidas no imaginário, principalmente ao pintar esta tela com temas que remetem a Steven Spielberg – no qual elementos de obras como “Tubarão” (1975) e “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (1977) estão presentes –, M. Night Shyamalan – assistiu “Sinais” (2002)? –, passando por Alfred Hitchcock e Quentin Tarantino, dentre outros.
O respeito de Peele à história do cinema hollywoodiano vai além das lembranças aos diretores citados, pois o diretor tem a sagacidade para elencar e agregar elementos que remetem a narrativas únicas, tais como a homenagem aos filmes B – de orçamentos modestos – e a importância da cultura negra em produções cinematográficas.Seria exagerado dizer que “Não! Não Olhe!” é uma obra prima, – esse posto ainda pertence à “Corra!“, mas a excelência na parte técnica, os cuidados com o roteiro dividindo-o em capítulos, a direção bem cuidada e as ótimas atuações como a de Daniel Kaluuya – vencedor do Oscar –, da excelente Keke Palmer e Steven Yeun, garantem uma boa ida ao cinema. Provavelmente você irá querer rever o filme, graças a caraminholas que serão depositadas na sua cachola.