A fórmula de dois álbuns (Esporro… e Acústico…) mais cinco anos sem um disco de inéditas é igual a 7x (sete vezes); o resultado dessa contabilidade dá título ao sétimo cd do Rappa, que nos entrega um trabalho honesto concatenando a maturidade da banda, letras pensantes, a excelente linha de O Silêncio Precede o Esporro (2003) e à experimentação múltipla de instrumentos herdados do Acústico MTV (2005).
A banda evoluiu exponencialmente e as camadas criativas do processo nos entrega um som sensacionalmente sólido; as letras dissecam os múltiplos problemas sociais sem o pudor de remexer na ferida urbana, representando um ponto forte nesse processo de composição, libertando o grupo definitivamente da sombra de Yuka (ex-integrante) e seus fãs, conhecidos como viúvas.
O vocal de Marcelo Falcão está perto da perfeição, mais bonito do que nunca e melódico, sem abusar de malabarismos vocais ininteligíveis, deixando fluir apenas a melodia, alinhando-a as canções de forma perfeita; em alguns momentos está mais rouco, elemento que, por exemplo, se encaixa perfeitamente em Monstro Invisível, o primeiro single.
O release oficial de lançamento do disco, escrito por Silvio Essinger, em julho de 2008, traz a seguinte passagem que concordo em gênero, número e grau: "Em primeiro plano, ficou a força da banda: Lobato debulhando uma bateria de poucas peças, Lauro buscando o groove perfeito de seu baixo melódico, Xandão pirando com os pedais de sua guitarra (que foi gravada em seu próprio estúdio, o Caroçu, em Curitiba) e Falcão caprichando nos raggas, como em nenhum outro disco d’O Rappa."
O arranjo é sem dúvida um destaque que não necessariamente dependa do crescimento do grupo como músicos, pois a qualidade aqui, explode da criatividade travestida em sons harmônicos e inesquecíveis, e uns sem par de instrumentos e objetos utilizados para encorpar em linhas gerais as canções de um dos melhores discos de pop rock nacional que caminha tranquilamente sem concorrentes até agora, para se consagrar como o melhor disco Brazuca do ano. O resultado do álbum definitivamente dá oportunidade de se ouví-lo livre de opiniões de senso comum, como nos mostra a canção Maria: "Nosso som não tem cor, não tem briga. Nosso som não é barulho, nosso grito não é aviso. Vejo as favelas todas elas unidas".
Uma das coisas mais difíceis ao se acompanhar o trabalho do Rappa, é fazer uma leitura definitiva de suas canções, pois diversas interpretações pipocam nos mais variados ouvintes, eu leio 7x da seguinte forma:
01. Meu Santo Tá Cansado: Representa a luta do dia-a-dia, suas dificuldades, sem se entregar a religião ou a falsas promessas, não é hora de abaixar a cabeça. Quase uma continuação de O Salto. Empolgante! A frase: "Meu santo tá cansado, não vou dizer que tenho saldo sobrando. Não tô devendo, mas a vida de homem é assim mesmo."
02. Verdade de Feirante: O sofrimento diário do homem comum em sua luta para sustentar sua família ou apenas sobreviver, seja ele um feirante, morador do subúrbio, da comunidade ou de qualquer classe for. É o grito dos excluídos. A frase: "Eu sou igual meus pais, cd pirata no mundo. Eu digo pra você, igualzinho! Minha vida é sem graça, quase cópia."
03. Hóstia: Fenomenal! O jogo de palavras é chocante, hóstia é um pão consagrado na fé, as hienas são animais relegados que comem carniça. A canção dos que se agarram à esperança da sobrevivência e de um dia melhor. A frase: "Meu escudo é minha hóstia. Sentia proteção infantil, mas permanecia assustado, acuado, em situação-hiena."
04. Meu Mundo é o Barro: Oportunidade, fim do preconceito e de pré julgamentos. Saia do senso comum e cresça como pessoa. A frase 01: "Eu tenho fé, que um dia vai ouvir falar de um cara que era só um Zé. Não é noticiário de jornal, não é!" A frase 02: "Tentei ser crente, mas, meu cristo é diferente. A sombra dele é sem cruz, no meio daquela luz, daquela luz!"
05. Farpa Cortante: Para os que não fazem idéia de quão dura a vida para eles é, um tributo aos moradores de rua, os excluídos, resumindo, os seres invisíveis. A frase: "Eu não tenho meu pai, eu sou sozinho. A vida emprestada no crime, na sombra, longe do firmamento, sem choro, no estrilo, sem choro não há tempo!"
06. Em Busca do Porrão: Prefiro começar publicar uma trecho que saiu no Jornal Estadão e foi postada na comunidade oficial da banda no Orkut: "A sexta faixa, Em Busca do Porrão, talvez seja o melhor exemplo da pulga que deve se alojar atrás da sua orelha: "A busca do porrão não é de paz ou de abraço/de grade, de foice amarelada, não é de cagaço/não tem cor, não tem caô/ nem promessa, nem fita, nem missa/A busca do porrão não é missão/é uma sina". "O porrão pode significar muitas coisas", diz Falcão. "Cada um pode interpretar de uma forma diferente. E isso é riqueza", complementa Xandão. Resumindo, em minha opinião é busca pela fruição da vida! A frase: "a busca do porrão não tem fim e não faz barulho."
07. Sete Vezes: A canção que leva o nome do disco de um número sete carregado de simbologia, reconhecidamente cabalístico, utilizado plenamente na matemática, arquitetura, história, astronomia, arte, física, esoterismo, filosofia e religião. Representa a perfeição de Deus nos sete dias na criação de sua obra, o arco-íris em suas sete cores, na Umbanda o sete é um número divino, somos enterrados a sete palmos de profundidade, e esse número segue em as maravilhas do mundo, as notas musicais, as ondas puladas na virada do ano, as trombetas tocadas a serem tocadas no apocalipse, dias da semana, as pragas do Egito e etc. A frase: "Será que é, fato necessário diz que é, insistir e repetir que é, todas as portas abrir."
08. Monstro Invisível: O que não se pode tocar e que comanda a nossa vida, como violência, política, fatos e os nossos atos. O inexplicável e o intangível. A história se repete e a vida nos une, como uma grande rede, misturando e revivendo acontecimentos nos quatro cantos do mundo. A frase: "Monstro invisível que comanda a horda arrasando tudo o que é de praxe. Eu tô laje acima no cerol que trás a vida pra baixo."
09. Maria: Segundo o Wikipedia, Maria (do hebraico (Miriam), significa "senhora soberana"; nome que indica serenidade, força vital e vontade de viver): nome da mãe de Jesus. Maria é isso a união e a vida, cair e levantar. A frase: "Trabalhador é coisa séria. Mas se um dia a festa termina, hei de louvar sempre a harmonia. Meu coração é pulsação, e meu guia. Nunca esquecida, minha mão de Maria."
10. Súplica Cearense: Letra escrita por Gordurinha e Nelinho; imortalizada por um ídolo que assim como O Rappa, acreditava que música não era só diversão, para Luiz Gonzaga, ela também tinha seu cunho social. Súplica é o retrato de um povo açoitado por vários fatores, que além do trabalho árduo nem sempre recompensado, ainda precisa se agarrar a uma fé cega. Emocionante! A frase: "Oh! Deus, perdoe esse pobre coitado, que de joelhos rezou um bocado, pedindo pra chuva cair, cair sem parar."
11. Fininho da Vida: Outra composição sobre os seres invisíveis e suas mazelas, aonde se entra, trabalha, vive e sai de fininho, sem ser percebido ou dizer adeus. A frase: "No buraco da vala, a laje é brinquedo, em meio a pet e plásticos num domingo festivo, num domingo lindo."
12. Documento: Arranjo potente e cadenciado, encapsulando uma máxima conspiratória, não temos controle sobre a nossa vida. A frase: "Carta fora do tempo, nada de documento, se era bom ou ruim tava aquém de mim."
13. Respeito Pela Mais Bela: Começa com um aviso sonoro, que anuncia a expectativa, a espera e o desejo por uma vida melhor. A frase: "Não nos despedimos quando foi embora, saiba que foi linda, linda a sua história, ficou no coração e não na memória. Traga a esperança, traga ela de volta, traga ela de volta, traga ela de volta, de volta."
14. Vários Holofotes: Evidenciar, iluminar, destacar os problemas, manter o alerta ligado, sobreviver e reviver, o curso e a calmaria da vida interrompida que como por uma enchente que nos afoga. A frase: "O olho, a tv e o rádio ligado, não suportam a imensa gritaria. Já não há mais o barulho lá fora. Foi selada a falsa calmaria."
7x é um disco poderoso e emocionante, carregado de inteligência e simbolismos; coloque sua massa cinzenta em profusão e percorra da capa até as letras em busca de informações úteis para uma vida melhor. Um cd que acredita na fé do homem, mas renega a religião como a única forma de fazer o bem, investindo em valores com a atitude, trabalho, coerência, honestidade, caridade e bondade para ajudar a construir um mundo melhor para o homem e a sociedade.
O disco acaba bater a marca de 50.000 unidades vendidas que lhes garantiu um disco de ouro, aposto em outros recordes por aí.
Gostaria de agradecer:
– Evelyn Hirose e Pedro Bastos, da comunidade oficial do Rappa, além de toda a galera pró-ativa.
– Karina Carvalho – presidente do FanRappa.
– Assim como os produtores Valdir, Márcio, toda a equipe da banda e os fãs!
Salve todos!
Links:
O Rappa (site oficial)
Comunidade Oficial do Rappa (aqui).
Fanrappa (site) (comunidade).
Agenda de shows (aqui)
Papéis de parede exclusivos Na Rota Do Rock (basta clicar nas figuras abaixo e quando abrir, salvar aonde desejar):
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