Outubro, o mês que celebra o misterioso, o horrível e os políticos, costuma receber bons momentos assustadores, principalmente nos cinemas. A produção que abre a temporada é “Halloween Ends”, trazendo o encerramento da trilogia baseada no furdunço fruto da conturbada relação entre Michael Myers e Laurie Strode.
Em uma trilogia que se conecta diretamente ao original de 1978, o diretor David Gordon Green, entrega em “Halloween Ends” uma montanha russa de emoções que causará estranhamento em uns e satisfação em outros (meu caso).
A pequena cidade de Haddonfield, localizada no distrito de Nova Jérsei/EUA, escolhida para sediar a fantasiosa história de uma das franquias mais violentas do cinema, provavelmente tem orgulho ao abrigar no imaginário coletivo cinematográfico personagens como Michael Myers e a babá Laurie Strode, vivida por Jamie Lee Curtis, deixando um legado para o horror do subgênero slasher.
Escrito a quatro mãos por David Gordon Green, Danny McBride, Paul Brad Logan e Chris Bernier, o roteiro eleva a franquia a um novo patamar: enquanto o primeiro em 2018 estabelece uma narrativa e apresentação – principalmente a novos espectadores –; e o segundo lançado em 2021 ‘chuta o balde’, envolvendo a plateia em uma violência visceral; temos em “Halloween Ends” uma experiência que busca levar a todos a um espiral inesperado de emoções.
O longa-metragem inicia-se com um acontecimento bastante inquietante, e aproveita-se bem deste fato para apresentar Corey Cunningham, vivido por Rohan Campbell, onde temos um personagem que colabora para que “Halloween Ends” teste a sanidade da audiência e a presenteie com uma série de dúvidas.
E justamente são essas dúvidas que permeiam a produção do início ao fim, dando um caráter totalmente novo à franquia, demarcando um ponto em que as impressões cristalizam uma polarização na famosa dualidade do ame ou odeie. Mais uma vez, reitero: adorei!
Faz-se necessário alertar que ao invés de seguir um caminho mais ‘tradicional’, “Halloween Ends” inspira-se em produções atuais do horror que focam no psicológico. Óbvio que a violência que construiu a base da franquia ainda persiste, mas desta vez outros elementos estão inseridos.
A maravilhosa Lee Curtis já havia alertado em entrevistas o quanto “Halloween Ends” é imprevisível, e ao partir desta imprevisibilidade, acredito que o derradeiro filme da saga em muitos momentos faça conexões com as camadas propostas pelo original concebido e dirigido por John Carpenter, para em seguida subverte-las.
Os atos e atitudes inerentes aos personagens tratam o espectador com um respeito absurdo, pois ao atribuir razões a movimentação dos players no tabuleiro, Gordon Green faz com que as ações ‘certas’ ou ‘erradas’ se baseiem em um motivo real, e enquanto brinca com a nossa empatia e saúde mental, o diretor apresenta cores a cada minuto de projeção e elas geralmente estão encarnadas no preto e/ou vermelho sangue.
Ao desafiar a retórica dos filmes de horror e terror, “Halloween Ends” vai acumulando deslizes e êxitos. A minha concepção é que a obra se sai vitoriosa, e enquanto Gordon Green mexe em mais um vespeiro clássico, desta vez “O Exorcista” (1973), veremos se o acerto de contas entre Myers e Strode realmente chegou ao fim. Enfim, vá ao cinema!