Imagine a responsabilidade de lançar um álbum um ano após o grande sucesso de
The number of the beast. Era essa a expectativa dos fãs em relação ao lançamento de
Piece of mind de 1983.
O quarto disco da carreira da banda apresentou um disco com sonoridade diferente dos padrões da época, com vocal melódico e arranjos mais técnicos e trabalhados.
Os padrões musicais dos anos 80 começavam a sofrer uma mudança de rumo em seus estilos. A crítica da época dizia que era a década perdida. Apresentaram-nos novas vertentes: a new wave, o thrash metal, cortes de cabelos esdrúxulos (terríveis franjas), roupas de gosto duvidoso e abusaram do uso de sintetizadores nas músicas.
Era a tendência. Mas o grupo optou por abdicar desta corrente e compilou verdadeiros clássicos que marcaram não somente a banda com toda a história do rock n’ roll. Vejamos.
A história do álbum:
O ano de 83 começaria com uma mudança: a saída do excelente baterista Clive Burr para a entrada de Nicko McBrain. Mais uma mudança, que no final mostrou-se a melhor saída para o grupo. Nicko tem uma energia inigualável (está sempre sorrindo) e uma técnica digna de elogios.
Uma curiosidade: durante os testes para contratação do novo baterista, Steve Harris já havia composto a música de abertura do disco – Where eagles dare – e estava repassando com os outros integrantes como ele queria os arranjos. Sentou-se a bateria e pediu para McBrain que tocasse assim. Como baterista, Harris era um excelente baixista. Nicko sentou no banco da batera e falou: “ … o quê vc queria era isso?” . Harris soltou: “ É! Está contratado!”
Voltando ao disco. Quando este foi lançado, a repercussão foi tremenda. Superar o The number… seria difícil e a banda conseguiu com maestria. Primeiramente na voz de Bruce Dickinson. Seu vocal afinadíssimo caiu como uma luva as letras mais complexas compostas até hoje pelo grupo. Hora destilando frases que se encaixam perfeitamente com as melodias, e depois utilizando agudos é o trabalho perfeito de sua carreira.
Na parte instrumental o entrosamento entre Adrian Smith e Dave “boneco Chucky” Murray foi perfeito. Os melhores solos já feitos por ambos, a sincronia com o baixo de Harris era único. Sua performance em “Die with your boots on e to tame a land” é emblemática.
Mas o destaque fica por conta da estréia de Nicko McBrain na bateria. Quando se escuta pela primeira vez Where eagles dare não se consegue prestar atenção em outro instrumento a não ser a bateria. Viradas espetaculares, uso dos pratos na condução da música e principalmente a velocidade do bumbo. Nicko sempre utilizou apenas um bumbo e pedal simples. Conseguiu imprimir uma velocidade de pedal duplo que surpreendeu a todos. Simplesmente sensacional!
Típico álbum em que TODAS as canções são de excelente qualidade fica até difícil escolher a melhor. Discutiremos a seguir esta opinião. Acompanhem.
Curiosidade: O título Piece of mind como tradução literal seria “pedaços da mente”, mas foi proposital o trocadilho com Peace of mind que seria “paz da mente” ou “paz de espírito”, algo que Eddie procuraria após o confronto com o capeta no álbum anterior.
Título: Piece of mind
Ano: 1983
Duração: 46’04’’
Integrantes:
– Bruce Dickinson: vocal;
– Steve Harris: baixo;
– Dave Murray: guitarra;
– Adrian Smith: guitarra;
– Nicko McBrain: bateria;
Faixas:
1. Where eagles dare: É top 5 das melhores músicas do Maiden em minha opinião. Abre o álbum magistralmente. A bateria inicia, ditando o ritmo, como citado no começo do texto. Já as guitarras dão um show a parte. Liricamente sincronizadas, nos proporcionam uma aula de como se tocar. Os solos não são aqueles intermináveis e cansativos, pelo contrário é só escutar que eu arrepio. O baixo tem um destaque maior que no The number. Inesquecível.
2. Revelations: Finalmente, Bruce compõe uma música sozinho. Não podia ter estréia melhor. Trata-se das revelações presentes no livro Apocalipse da Bíblia. A estrofe inicial é uma citação de uma oração inglesa de G. K. Chesternon. A letra bem complexa conta como seria o fim dos tempos de acordo com a crença dos ingleses. Sempre sonhei em toca-la no baixo. Um dia quem sabe.
3.
Flight of Icarus: Seu sucesso na época não deve-se apenas ao lançamento em single, mais pela qualidade dos arranjos e pelo vocal de Dickinson. Entoando agudos sem nunca desafinar, utiliza de toda técnica para carregar a música que por si só já é um clássico. Na capa do single mostra um Eddie alado atrás de Icaro, que na mitologia grega ficou preso no labirinto com o minotauro, e para fugir construiu asas de ceras e penas, mas voou alto demais e suas asas foram queimadas pelo Sol. Tem um dos melhores refrões da banda:
“ Fly , on your way, like an eagle
Fly as high, as the sun
On your way, like an eagle
Fly and touch the sun …”
4. Die with your boots on: Boas viradas rítmicas. O vocal é agressivo, tem dois solos muito legais de guitarra. Fala sobre a honra e a coragem que os homens devem ter para enfrentar suas dificuldades. Até no refrão cita a frase: “ Se for para morrer , que morra com suas botas…” . Não deixa de ser atual.
5.
The tropper: Maior clássico do álbum. Talvez a música do Maiden mais regravada por outras bandas. Excelente para todos os headbengers baterem cabeça. O riff de guitarra no começo da música é inconfundível. A bateria cria seu espaço com velocidade e compasso que viriam a ser característico de Nicko McBrain. O vocal de Bruce é destaque e entre uma estrofe e outra tem o sempre presente Oh!Oh!Oh!Oh!Oh!. Presença obrigatória nos shows, Dickinson sempre pega uma bandeira da Inglaterra e começa a impunha-la, em alusão ao tema da música (guerra da Criméia entre o exército inglês e o russo). Um dos maiores clássicos de todos os tempos. Sem dúvida.
6. Still life: Esta música tem um início que é cantado ao contrário e quando é tocada de maneira correta surge à mensagem: “ não mexa com aquilo que você não entende”. Este aviso é uma brincadeira que a banda colocou para aquelas pessoas que acreditam que nos discos tem mensagens subliminares ou satânicas. Falando da música ela é bem cadenciada, com um refrão bem legal. Outra curiosidade: é uma das únicas músicas em que o guitarrista Dave Murray colabora em sua composição.
7. Quest for fire: Talvez seja a canção menos conhecida da banda. É rápida, com um vocal mais ritmado e menos melódico que em outras músicas. Fala sobre a busca e a descoberta do fogo pelo homem através dos tempos. É a única que fica abaixo das outras. Leva um 9,0.
8. Sun and steel: Música rápida, refrão cativante. É assim o espírito de Sun and steel. Uma canção poucas vezes executada pela banda. Destaque para o baixo de Harris. Uma música para divertir, sem grandes pretensões.
9. To tame a land: O grande épico deste álbum. Originalmente o título seria Dune, em referência ao livro escrito por Frank Herbert. Este não aceitou a utilização por não gostar de bandas de heavy metal, especialmente o Iron Maiden. Após este entrave resolveu-se utilizar o título acima. A canção trata da história de Paul Atreides, destinado a ser rei do planeta Dune. Em termo instrumentais é uma verdadeira obra prima. A linhagem de baixo é forte, constante e destaca frente aos outros instrumentos. As guitarras alternam momentos de acordes calmos e riffs poderosos. A bateria continua seu bom trabalho realizado ao longo do álbum. E Bruce Dickinson canta como se estivesse contando uma história. Infelizmente a música é pouco conhecida. Os fãs não sabem o que estão perdendo.
Finalizando os trabalhos, não há o que reclamar desta obra prima. Praticamente todas as bandas tiveram momentos em que seus trabalhos se destacaram perante outros. Este é o caso de Piece of mind. Um disco sem escolhas erradas de repertório, temas abrangentes nas letras das músicas, mas não divergentes em si. Instrumentalmente, junto com Powerslave, é sem sombra de dúvidas a melhor produção da banda. Momentos de grande criatividade, com destaque para o cativante Nicko McBrain, que apesar da estréia estava seguro. Poderia tecer mais umas dez páginas de elogios, mas seria redundante.
No próximo post falarei de outro álbum clássico, que praticamente fecha o ciclo de ouro da donzela de ferro: Powerslave.
Abraço.
Danilo Duff
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