Brasília-DF, 20 de novembro de 2016
Banda: Guns N’ Roses
Público estimado: 30.000

UPDATE: Adicionadas fotos oficiais por Katarina Benzova

Em abril deste ano, os fãs do Guns N’ Roses ficaram ouriçados com o anúncio do reunion da cultuada banda capitaneada pelo vocalista Axl Rose e pelo guitarrista Slash. Configurando a formação ‘quase’ original, além da dupla, estava de volta o baixista Duff McKagan para fazer companhia ao tecladista Dizzy Reed. As ausências ficaram por conta de Steven Adler (bateria) e Izzy Stradlin (guitarra), que a bem da verdade, não fizeram muita falta.

A94A6986Desde a ‘treta’ que separou um dos maiores grupos do rock mundial, duas décadas se passaram tendo Axl Rose à frente da banda; a fantástica história do GN’R foi se diluindo aos poucos, graças ao frontman que cultivava atrasos, bebedeiras e outras atitudes sem noção, somadas a um vocal cada vez mais ridículo e flácido.

Eu, que nunca havia conseguido testemunhar ao vivo a banda no auge, ao passo desta separação problemática entre Axl e Slash, sentia que uma página da minha vida roqueira havia sido arrancada. No mínimo frustrante perceber que eu não puderia fechar um ciclo da minha vida, em razão de acontecimentos fúteis, gerados por embate entre dois nomes importantíssimos para a música e que lideravam uma das minhas banda preferidas.

A94A7151Até tentei preencher esse vazio assistindo apresentações do ‘novo’ Guns N’ Roses, mas com Axl à frente, na minha opinião, a banda não passava de um cover de si mesma. Bem, felizmente a história está sendo reescrita e finalmente testemunhei algo poderoso.

A gira intitulada “Not In This Lifetime Tour” (uma referência a resposta dada por Axl Rose em 2012 a uma pergunta se haveria alguma possibilidade do grupo se reunir novamente) chegou à Brasília, que testemunhou o 43º show de um espetáculo merecidamente elogiado. O repertório na Capital Federal recebeu três adições, precisamente “Used to Love Her”, “Outta Get Me” e “Yesterdays”, completando 27 canções de um evento inesquecível.

A94A7156Claro que durante as 2h40 de duração (show mais longo desta passagem pelo Brasil) em que o Guns N’ Roses esteve no palco, não sobraram apenas elogios. Boa parte do público estimado em 30.000, foi prejudicado por um som ruim que persistia em agredir nossos ouvidos durante os primeiros 30 minutos da apresentação. Erro inadmissível para qualquer show, imagine para um evento desta magnitude.

Do repertório praticamente irrepreensível, que tinha como base o álbum clássico ‘Appetite for Destruction’ (1987), podemos destacar homenagens como “Wish You Were Here” (Pink Floyd), “Attitude” (The Misfits) e “The Seeker” (The Who); além de “Live And Let Die” (Wings) e “Knockin’ On Heaven’s Door” (Bob Dylan), nas versões já consolidadas pelo Guns N’ Roses;  e vale citar também, canções incidentais que fizeram sucesso, como New York Dolls (“You Can’t Put Your Arms Around a Memory”), Jimi Hendrix (“Voodoo Child”), Eric Clapton (“Layla”) e Rolling Stones (“Angie”). O destaque negativo ficou por conta das execuções de “Better”, “Sorry” e “Chinese Democracy”, que dá título ao álbum do GN’R que demorou dez anos para ser lançado, coisas do excêntrico Axl.

A94A7328Emoção, este foi o sentimento que marcou o público presente no Estádio Nacional Mané Garrincha. A cada canção entoada, a simbiose entre palco e plateia era renovada e fortalecida, emanando uma energia que ia tomando conta de todos.

A cada música executada, como “Welcome to the Jungle”, “Estranged”, “You Could Be Mine”, “Sweet Child O’ Mine”, “Civil War”, “Yesterdays”, “November Rain” e “Paradise City”, a plateia cantava em uníssono, criando um vórtice empolgante, único e inesquecível.

O vocal do Axl está ótimo, longe do 100%, mas ótimo; segundo o amigo Felipe Perlingeiro, a execução de “This Love”, apesar de um pouco entediante, até mais que as citadas de ‘Chinese Democracy’, permitiu a Axl desfilar uma dúzia de agudos nesta balada complexa e de difícil digestão; os músicos Richard Fortus (guitarrista), Frank Ferrer (baterista) e Melissa Reese (teclados e efeitos), completam a formação; o videografismo no telão é uma obra de arte; e em relação à Plebe Rude — banda de abertura —, o grupo de Brasília foi prejudicado pelo horário e pelo som.

A94A8022É preciso reforçar que nem mesmo o problema no som, o atraso em uma hora, a falta de interação dos integrantes com o público ou qualquer outro revés que tenha aparecido apagará o que testemunhado nesta grande noite.

Durante a execução de “November Rain”, fiz uma oração e dediquei a canção a Fábio Gonçalves, um dos meus melhores amigos, fã incondicional do Guns N’ Roses, que coincidentemente faleceu em um dia chuvoso, em novembro de 1992. A minha vida — pessoal e rocker — se mistura ao GN’R de várias maneiras, neste dia 20 de novembro de 2016, fechei um ciclo, fechei uma história e completei um álbum. Acredito que pelas expressões chorosas e emocionadas de todos que estavam ao meu redor, muitos realizaram ali um sonho que jamais será esquecido.

Vida longa ao Guns N’ Roses.

P.S.: Uma pessoa me enviou mensagem alegando que esqueci de elogiar o Slash. Será que precisa? :p

Publicaremos também um texto do fã Wesley, que assistiu nada mais, nada menos, que oito shows desta “Not In This Lifetime Tour”. 🙂

A94A8125REPERTÓRIO:
It’s So Easy
Mr. Brownstone
Chinese Democracy
Welcome to the Jungle
Double Talkin’ Jive
Sorry
Better
Estranged
Live and Let Die (Wings)
Rocket Queen
You Could Be Mine
Attitude (Misfits) – incidental “You Can’t Put Your Arms Around a Memory” (New York Dolls)
This I Love
Used to Love Her
Civil War – incidental “Voodoo Child” (Jimi Hendrix)
Coma
Speak Softly Love (Love Theme From The Godfather – Nino Rota)
Sweet Child O’ Mine
Out Ta Get Me
Wish You Were Here (Pink Floyd)
November Rain – incidental “Layla” (Eric Clapton)
Yesterdays
Knockin’ on Heaven’s Door (Bob Dylan)
Nightrain
BIS:
Patience – incidental “Angie” (Rolling Stones)
The Seeker (The Who)
Paradise City