Quando um crítico de qualquer arte chegado ao passado se interessa pelo presente, só há duas possibilidades: ou se trata de um trabalho retrô ou realmente é algo original, que merece uma reação boquiaberta. Ou então… A terceira via, improvável, é um trabalho que desperta estranheza por sua modernidade e, ao mesmo tempo, uma qualidade que remete aos melhores momentos de um passado não muito distante e, sobretudo, agradável.

Capa do álbum

É o caso do álbum “Carnaval em Preto e Branco”, da banda La Trinidad, praticamente toda ela representada por seu líder Enzo Trinidad. Reconhecemos ali a marca de sons de mais alto bom gosto na linha do rock, hard rock e até traços de um regionalismo diferenciado, sem as apelações fáceis de uma caricatura radiofônica. Pesado, mas sem agredir ouvidos mais sensíveis; denso, mas sem se tornar inatingível para o ouvinte comum, Enzo consegue, nas músicas de seu trabalho inicial, atingir certeiramente um equilíbrio entre o inovador e o tradicional. Sim, você reconhecerá influências de bons rocks: de Charlie Brown Jr. a Iron Maiden, de Gonzagão às vertentes indies mais recentes. E dessa salada musical, aparentemente inimaginável, sai um trabalho coeso, na sua quase totalidade. Até um chato como eu consegue se impressionar com o bom gosto do jovem e talentoso multi-instrumentista. Confesso que só torci o nariz para uma das faixas. E, nos dias de hoje, isso é muito, meus amigos.