Roger Waters, 13 de outubro de 2018, 21h30, Estádio Nacional Mané Garrincha, Brasília-DF. Graças à polarização que se formou no país e o excelente e necessário engajamento de Waters, o que deveria ser apenas uma apresentação de cunho artístico, tornou-se uma ode à resistência e combate a opressão, fome e várias outras mazelas que assolam o planeta.
Quase 100% do público de 54.390 espectadores saíram satisfeitos ao final de três horas com o vigoroso show do homão da p***@. Um senhor de 75 anos que esbanjou qualidade artística, propagou diretrizes para um mundo melhor e apresentou um padrão técnico de áudio e vídeo que só é permitido a artistas diferenciados, como Waters, Paul McCartney, U2 e Rolling Stones. Enfim, particularidades de um seleto grupo do pop rock mundial.
Quando digo que o espetáculo não foi aprovado pela plateia em sua totalidade, faz-se necessário citar que foi uma grata surpresa, pois apenas uma parcela aproximada de 15% não se divertiu como deveria, afinal, não fizeram o dever de casa. O artista em questão é conhecido por seu ativismo desde a época do lendário grupo Pink Floyd, sendo assim, naturalmente não iria pedir arrego por conta das reclamações que rolaram em São Paulo, a bem da verdade, ouvimos bem menos vaias do que se esperava.
Na Capital Federal, o baixista britânico George Roger Waters manteve sua postura em denunciar o fascismo, a demagogia política, a hipocrisia religiosa, a destruição do meio ambiente, a ganância de grandes corporações e o preconceito de qualquer natureza. Se alguém não concorda com a visão do artista, sinceramente, o errado nesta história não é ele. Então, caro leitor: resista!
Nos discursos durante o espetáculo, Waters fez questão de frisar alguns pontos, como a defesa de “que é preciso que o amor se espalhe pelo mundo, precisamos manter o planeta habitável para os nossos filhos e para os filhos dos nossos filhos”, afirmou “que é preciso acreditar nos direitos humanos universais, como a maioria ali também acreditava”, em seguida pediu desculpas pela sinceridade em constatar “que estes direitos igualitários não estão presentes no Brasil”, completando, “em São Paulo as pessoas estavam prontas para a briga. No segundo show dei um recado: ao invés vez de brigar, reservem as energias para resistirmos aos malditos porcos”.
Sem dúvidas, o maior alvo da vocação política ativista de Waters foi o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No segundo ato da apresentação, durante “Dogs” e “Pigs”, o empresário e político republicano fora retratado no corpo de porcos, vomitando, com cara de bebê chorão, ostentando um pinto pequeno, dentre outras chacotas.
Durante o espetáculo com vinte e duas canções, Waters emocionou a plateia com clássicos do Pink Floyd, como “Time”, “Welcome to the Machine”, “Wish You Were Here”, “The Happiest Days of Our Lives”, “Another Brick in the Wall”, “Money”, “Mother” e “Comfortably Numb”. De sua carreira solo, nesta turnê intitulada Us + Them Tour, o artista entoou para os fãs as canções “Déjà Vu”, “Picture That”, “Smell the Roses” e “The Last Refuge”, todas do álbum Is This the Life We Really Want?, lançado em 2017.
No primeiro ato da apresentação, ouvia-se em uníssono o coro da plateia em “Time”, “Welcome to the Machine”, “Wish You Were Here” e “Another Brick in the Wall”, que contou com a participação dos alunos de uma escola da região administrativa da Estrutural, abrilhantando o espetáculo com uma bela coreografia. Impossível não se emocionar!
Além das canções do Floyd que marcaram época, outra lembrança da banda se fez presente, um porco gigante sobrevoava nossas cabeças com a frase “stay human” (mantenha-se humano), um recado que espero ter reverberado na mente de todos, afinal é um conselho necessário e acalentador se colocado em prática.
A vida fica completa quando é administrada com boas doses de educação, cultura, empatia e o combate ao que nos diminui como seres humanos. Felizmente tive o prazer de participar dessa grande noite e voltar para casa em êxtase com a certeza de alma lavada. Obrigado, Sr. Waters por nos proporcionar sentimentos tão nobres.
P.S.: Desculpe a qualidade das fotos, fiz todas elas com o aparelho celular.
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