O cantor e poeta canadense, Leonard Cohen nos deixou no dia 10 de novembro de 2016. Dono de uma voz sedutora e letras impecáveis, o artista havia acabado de lançar “You Want It Darker”, seu 14º álbum de estúdio. Como não poderíamos deixar passar em branco este triste acontecimento, pedimos a um fã do cantor, o jornalista e editor do “Café & Conversa”, Romoaldo de Souza, que escrevesse uma singela lembrança sobre Cohen.
So long, Cohen!
Romoaldo de Souza
Era final de março de 1985, quando um amigo suíço, Francois Renè, me socorreu com uma dose de pisco, um casaco de frio e um fita K-7. Fazia -1Cº, no litoral arrasado do Chile que recém passava por um dos mais violentos terremotos. Eu tinha sido enviado a San Antonio para fazer parte de uma equipe de jornalistas que ajudaria a despachar notícias para que agências humanitárias captassem ajuda para socorrer os chilenos.
René sentiu que eu estava despreparado para enfrentar as pancadas de vento que vinham do Pacífico como quem entra sem bater. A sensação térmica era de uns -10ºC e eu tremia “feito vara verde”. Tomei a dose de pisco e encostei a cabeça no saco de dormir, tentando dar um cochilo, quando de repente escuto: “Now I greet you from the other side of sorrow and despair, with a love so vast/ . Confesso: eu me senti tocado. Dei um pulo com aquela voz grave cantando no meu walkman e perguntei ao meu amigo de quem era voz?
– Cohen. Leonard Cohen. Escute a fita toda e depois falamos dele – disse Francois Renè.
Daquele março de 1985 em diante, nunca mais passei um dia sem ouvir pelo menos uma música de Leonard Cohen.
O cantor, o monge, o compositor. Tudo em Leonard Cohen me marcou muito. Do dia em que a agente passou a perna no canadense e deixou sua conta zerada, às tardes com a musa Marianne, em Hydra, nas ilhas gregas.
Leonard Cohen era um encantador. São muitas as canções de que recordarei da voz mais bonita que já escutei, mas “Tower of Song” é marcante. Cohen fala da vida dura, da solidão de um escritor. “Nasci assim. Não tive chance. Nasci com o dom de uma voz de ouro”.
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