Os Scorpions fazem 50 anos de estrada e resolvem lançar uma turnê comemorativa. Eu hesitei muito antes de ir a esse show. A banda não vinha produzindo bons discos, estava num ostracismo qualitativo de dar dó. Mas o número fechado me chamou a atenção e me deu a inciativa de procurar o set list, quando do lançamento da venda de ingressos. Ao ver que a maioria das músicas seria da fase mais inicial da banda, até os anos 80, percebi que seria um bom programa.
E não me enganei. Na noite de oito de setembro, num interessante Centro Olímpico (só no nome) localizado ao lado do estádio Castelão, os Scorpions subiram ao palco pontualmente às 22h, como foi divulgado (coisa boa é se sentir respeitado no horário, bandas brasileiras, aprendam!). Pouca conversa e muito som durante uma hora e quarenta minutos de show.
Mas, sem ser (muito) maldoso, não havia como o quase setentão Klaus Meine aguentar o tranco muito mais que isso. O próprio show tem momentos pontuais para uma bem-vinda pausa na voz de Meine, como o delicioso instrumental “Coast to Coast” e o solo de bateria espetacular de Mikkey Dee, ex-Motorhead, King Diamond e Helloween, que assume oficialmente o lugar do excelente James Kottak. Mas, incrivelmente, a voz incialmente oscilante do vocalista, sobretudo na clássica “Make it Real”, vai ganhando força ao longo do show, a ponto de não parecer nem cansar ao berrar “Blackout”.
Nos poucos momentos em que se dirige ao público, Meine faz as formais intervenções sobre o Brasil e a cidade de Fortaleza. Coisa rápida, cordialidade normal de banda que vem pela primeira vez a uma nova cidade. O maior discurso da noite foi na justa e emocionante homenagem feita a Lemmy Kilmister, falecido no final do ano passado. Sob os gritos da plateia de “Lemmy, Lemmy!”, a banda manda o clássico motorheadiano “Overkill” enquanto imagens do grande vocalista são reproduzidas no telão.
Momento emocionante também foi a execução da belíssima “Always Somewhere” iluminada pelos isqueiros e celulares na arena às escuras. Aliás, todas as baladas atingiram em cheio a parte mais pop da plateia, tanto nessa canção quanto em “Send me an Angel”, “Wind of Change” ou na batidíssima e chatíssima “Still Loving You”.
Para os mais rockers, como eu, emoção mesmo foi ver clássicos como “The Zoo” (até hoje, para mim, o maior deles), “Speedy’s Coming”, “Catch Your Train”, “Dynamite” (quase desloco o pescoço de tanto bater cabeça), a já citada “Blackout”, “Big City Nights” ou “No One Like You” (essa sim, uma das melhores baladas da banda, ao lado das infelizmente ausentes “In Your Park” e “In Trance”).
Pawel Maciwoda (baixo) e os veteraníssimos da guitarra Mathias Jabs e Rudolf Shencker (espetacular, como sempre) continuam fazendo uma front line das mais interessantes do rock, mesmo sendo quase bicentenários, na soma de suas idades. Ainda furacões. E é exatamente ao som de “Rock You Like a Hurricane” que desço a rampa da arquibancada superior, depois de ter me afastado da multidão aos primeiros acordes de “Still Loving You”. Com uma sensação de alívio por poder ter visto uma das maiores bandas de hard rock/metal do planeta antes da iminência do fim, pois honestamente não acredito numa longevidade muito maior da banda a ponto de outra turnê rolar por aqui.
Até porque, apesar da boa sacada de colocar no telão a letra de “We Built this House”, uma das músicas de trabalho de seu mais recente lançamento, as músicas novas não decolam, como tem sido uma constante nos trabalhos da banda nos últimos 20 anos. Chegaram aos 50. Uma data histórica. E está bom. Para não macularem o final de uma carreira brilhante.
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