Desigualdade

A pesquisa realiza pelo Ibope e divulgada pela Folha de São Paulo não é reveladora, alguns dos dados aferidos podem ser facilmente percebidos frequentando e conversando com pessoas que consomem os estilos citados. O mais preocupante é que a pesquisa não deve ser celebrada pelas fatias delimitadas pelo “bom gosto” — se é que isso existe, pois infelizmente, a análise divulgada não serve para sedimentar hipótese e sim para revelar o mais cruel dado, a desigualdade social. É preciso garantir o acesso da cultura a todos!

Não podemos nunca, afirmar que as classes C, D e E estão completamente lincadas a um suposto gosto musical suburbano, existe sim, muita gente que gostaria de consumir a MPB e o Pop Rock, o problema é que lhes faltam condições econômicas para frequentar eventos, principalmente shows internacionais. Por exemplo, para ir ao Black Sabbath, um fã da banda desembolsaria R$ 300 para curtir a área VIP, R$ 100 para camiseta oficial da turnê, R$ 8 para beber uma cerveja, R$ 6 para tomar uma água e mais R$ 8 para se alimentar de um churro ou pipoca. Só aí dá uma bagatela de R$ 422, não incluindo aí o valor do deslocamento, alimentação e bebidas extras.

Vale lembrar que o valor do salário mínimo no país é de R$ 678. Praticamente o custo de um show. No futuro, ainda poderemos incluir nessa variável, caso dê certo, o benefício fixo de R$ 50 para todos os trabalhadores, conhecido como Vale Cultura, criado pelo Governo Federal que deverá ser oferecido diretamente pelas empresas aos seus funcionários.

O acesso nesses casos depende de um filtro social que marginaliza e impede o consumo. O rock, um dos estilos reconhecidos como cult no país, sofre pela falta de plateia, sem dúvidas que está nessas classes C, D e E, infelizmente além de não ter as condições para bancar a ida em um evento, ainda sofrem com a falta de conhecimento dos artistas, já que a mídia reforça os limites das classes e aliena.

Creio que os músicos e produtores poderiam contribuir com essa formação de público, reduzindo custos e apresentando seus espetáculos em locais com baixo valor aquisitivo, afim de descentralizar, fomentando assim a cultura devidamente e ampliando os dados da pesquisa.

Os cachês astronômicos cobrados por artistas da MPB e do Pop Rock no país estão inviabilizando uma gama de projetos e matando a galinha dos ovos de ouro, que acaba sacrificando o público, mas aí é outra discussão.

Rock e MPB são estilos de classes A e B; funk e gospel, de C, D e E, diz Ibope

Pesquisa divulgada na segunda-feira (28) pelo Ibope procurou traçar quais são os estilos musicais mais ouvidos no rádio, assim como o perfil dos ouvintes de cada gênero.

Segundo o estudo, que recebeu o nome de “Tribos Musicais”, o sertanejo aparece no topo da pesquisa, com 53% dos pesquisados respondendo que ouvem o gênero.

Em seguida, aparecem MPB (47%), samba/pagode (43%), forró (31%), rock (31%), música eletrônica (29%), gospel (29%), axé (26%), funk (17%), country (12%), clássica (11%) e jazz/blues (9%).

Os ouvintes de sertanejo e samba/pagode foram apontados como pertencentes, majoritariamente, à classe C, com 52% e 53% dos ouvintes dos estilos pertencendo, respectivamente, a essa faixa de renda.

Já os ouvintes de MPB e rock foram apontados como integrantes, principalmente, das classes A e B, com 46% dos ouvintes de MPB nessas faixas de rendas e 52% dos ouvintes de rock. Dentre estes ouvintes, 13% possuem ensino superior, maior incidência do que no caso dos demais gêneros analisados de forma específica (sertanejo, samba/pagode, gospel e funk –os demais não foram esmiuçados).

A pesquisa também aponta que 70% dos ouvintes de rock também ouve MPB, enquanto, entre os ouvintes de MPB, 42% ouve rock.

A audiência gospel e de funk foi apontada como integrante, majoritariamente, das classes C, D e E, com 71% e 72% dos ouvintes, respectivamente, nessas faixas de renda.

Segundo o estudo, 38% dos que ouvem funk também ouvem música gospel, enquanto dentre os ouvintes de música gospel, apenas 22% ouve funk.

Para 43% dos funkeiros, diz a pesquisa, o presente é o mais importante, não se planejando tanto para o futuro. Para 81% dos que ouvem música gospel, a sua própria casa é o “melhor lugar do mundo”.

A pesquisa foi feita nas “principais capitais e regiões metropolitanas do país”, segundo o Ibope.

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