Por Yoko Teles
Someone told me long ago,
there’s a calm before the storm.
I KNOW!
it’s been comin’ for some time…
Sabe aquela banda, daquela música de bar? Aquela que começa com Aaaaaaai uãná nou, ave iu evá sii de reiiin. Pois é. Muita gente só conhece a palavra Creedence por causa do grande sucesso, popularizado em Brasília pela quantidade de butecos que não tem muita seleção musical. A banda Creedence Clearwater Revival abandonou os palcos em 72, com apenas sete álbuns lançados com a marca CCR.
Desde 1995 Stu Cook (baixista) e Doug Clifford (baterista muito louco) resolveram que era hora de voltar a ganhar dinheiro com shows. Recrutaram Elliot Easton (um dos melhores solos de Green River e Suzy Q já gravados pelo CCR), o multi-homem Steve Gunner (para as percursões, arranjos, teclado, gaita, apitos e afins) e o fantástico show man John Tristão, a loucura do palco.
No ultimo dia 21 de novembro, o auditório do Ulisses Guimarães pode sentir a vibração desses senhores, que apesar de ostentarem seus cinqüenta e sessenta anos de idade, não deixaram em nada a desejar. O ingresso estava meio salgado (comprei cadeira verde o que me custou 300 realidades), o que proporcionou que muitas pessoas, que não tinham a mínima ideia da força e musicalidade do CCR, estivessem presentes. Muitas velhinhas, pais e filhos, além de fãs e motoclubes também apareceram.
Até a metade do show todos os convidados permaneceram sentados em suas poltronas, tornando o clima rock’n’roll mais estéril. Pude notar pequenos grupos de fãs e motoclubes, enquanto que a maioria foi apenas para ouvir Proud Mary e a fatídica Have You Ever Seen the Rain. Ouviram, mas não puderam notar a lágrima e o êxtase nos poucos que cantaram os hinos do Sul como Cotton Fields, Hey Tonight e Who’ll Stop the Rain.
As músicas estavam um tom mais lento que as gravações originais, porém com a bateria mais agressiva em outras. Clifford está em plena forma, segurando canções com mais de dez minutos de duração, nos casos de Heard it through the grapevine, Green River e Suzy Q. No meio do show Stu parou tudo para agradecer o público e apresentar os componentes. Clifford fez um emocionado discurso padrão sobre como é importante manter a chama e os sonhos sempre perto de você.
Logo em seguida Midnight Special deixou de ser uma simples evocação gospel para se tornar sensual com a interpretação de Tristão. Ouquei, isso foi um excesso de minha parte, mas não pude conter a risada com as rebolados do cinquentão. O público só levantou das cadeiras apenas quatro canções antes do fim. O bastante para encher a parte frontal ao palco. No bis Good Golly, Miss Moly fez o público gritar e esperar atentamente por Molina. Infelizmente a canção do penúltimo álbum, Pendulum (1971), não foi executada.
Já na saída do show, um bêbado playboy passa por mim cantando uma versão própria de have you ever…Voltei meus olhos para o chão esperando que um taco de beisebol brotasse dali. Mas não foi necessário. Dez metros em diante, um flanelinha idoso trouxe a constatação de que fã não é aquele que gasta 600 realidades para assistir a um show em cadeiras confortáveis, sem poder acender um marlboro ou beber um gole de Jack, e sim aquele que conhece a letra da banda e se diverte com isso.
“Ooh, when them cotton bolls get rotten,
you can’t pick very much cotton,
in them old cotton fields back home”.
REVIVAL, Creedence Clearwater. IN: Willy and the Poor Boys. Fantasy Records: november, 1969
Para ouvir: Cotton Fields, The Midnight Special e Hey Tonight
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