O Na Rota do Rock começa essa semana o especial sobre Fortaleza, cidade visitada por 4 de seus escritores (kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk… é capaz da associação de escritores entrarem com um processo sobre nós).
Bem… Nas 3 primeiras partes, uma entrevista especial com o multimídia perfomático e cantor Falcão:
“Falcão é visto pela imprensa e público com grande ignorância, na tendência natural das coisas de nunca buscarmos informação, o mesmo é tratado de forma errônea como humorista ou cantor brega. Ok. Os arranjos são cafonas, mas tudo é formatado para que se encaixe perfeitamente com letras que tiram sarro da sociedade, políticos e claro, dos cornos. Falcão é um ótimo letrista e divertido como todo bom Cearense.
Nascido em 1957 no pequeno município de Pereiro, Marcondes Falcão Maia, o “joiado” formou-se com destaque em Arquitetura, mas achou que se daria melhor como cantor. Sua estréia foi com o disco Bonito, Lindo e Joiado (1992), o Brasil veio a conhecê-lo de fato em 94 com O Dinheiro Não é Tudo, Mas é 100%. Suas 100 mil cópias vendidas transformaram. O terceiro trabalho é sua maior vendagem, afinal, foram 240 mil cópias de A Besteira é a Base da Sabedoria. Hoje, é um artista independente e seu último trabalho What’s Porra is This (2005) é o oitavo álbum de sua carreira.
N.R.D.R. conferiu num ótimo bate papo às impressões desse “gigante” sobre a sua carreira e vida, graças ao nosso fiel operário Farinha, que desenvolveu a logística para o encontro. A entrevista discorreu em uma barraca na Praia do Futuro, a qual não será citada porque sem ética alguma, cobrou a nossa conta.”
Falcão: Esse é o disco novo… What porra is this
Na Rota do Rock: Rapaz, não acha esse disco pra comprar em Brasília nem com raiva…
Falcão: Você não acha em canto nenhum…você comece a rezar que eu vou lhe dar esse aí. Sabe que esses artistas assim underground que nem eu, não tem assim pra vender não…
NRDR: Independente…
Falcão: Não é independente não… Os meus discos que não são independentes, os outros 7, não tem também em canto nenhum não.
NRDR: O que passou pela sua cabeça que não aproveitou a estrutura do reveillon e gravar um DVD ao vivo??
Falcão: Porque é muito óbvio e eu não gosto de coisa óbvia não… Roberto Carlos gravaria, mas eu não… Eu não fiz um DVD ainda porque eu quero fazer um DVD diferente, que não seja esse negócio de show, o cara cantando… o cara assiste o DVD e não quer mais ir no show… Quero fazer um DVD que tenha pelo menos uns dois estupros, quatro suicídios…
NRDR: Isso cabe direitinho no youtube… lá tem de tudo…
Falcão: Youtube sim… tem tudo do que é ruim… e tem coisa que você não imagina. Outro dia estava atrás de escutar uma música de uma banda chamada Mungo Jerry… não sei se você conhece, Mungo Jerry… uma banda americana dos anos 70 e nunca tinha ouvido ninguém com aquilo, coloquei no youtube, tinha uma porrada de filme lá, tem tudo dos caras lá…
NRDR: Você acompanha internet, busca por pesquisa, diversão?
Falcão: Rapaz, nem pra uma coisa nem pra outra….
NRDR: Pra putaria então?
Falcão: Muito mais putaria do que diversão, se bem que putaria tem um quê de diversão também. Mas eu não tenho muito saco de ficar na frente de computador não, a não ser que seja uma coisa de muito interesse. Essa história de ficar em bate-papo na internet eu acho uma perda de tempo. Esse negócio de orkut eu acho uma coisa muito sacal. Eu gosto de ver essas coisas que estão escondidas, de garimpar… procurar sites esquisitos, de coisas estranhas…
NRDR: Tipo zoofilia, pessoa que gosta de transar com árvores ou transar e cagar…
Falcão: Eu também não sou tão escatológico assim não…hehehe… Quando eu digo coisas esquisitas são coisas assim diferentes mas bonita…
Falcão se aprochegando para a entrevista.
NRDR: Você tem algum problema de falar do seu relacionamento com a Débora Secco?
Falcão: Foi rapaz… ela escreveu meu nome no pé lá… aí tudo é possível… ficou meu nome lá no pé da criatura e eu não comi nem vou comer…
(Nesse momento, somos interrompidos pelo gerente do estabelecimento que pede pra tirar uma foto do Falcão)
GERENTE: Posso tirar uma de você???
Falcão: Pode… tem coragem?? Hehehehhehehe
GERENTE: O senhor nunca veio aqui… pq??
Falcão: Nunca vi pq não sabia onde era. Eu tinha uma desconfiança que era na Praia do Futuro, mas o lugar exato eu não sabia…
GERENTE: Mas a Praia do Futuro é conhecida?
Falcão: A Praia do Futuro eu conheço desde a época que ela era do futuro… Eu sou do tempo que aqui não tinha nada disso, que era deserto… só vinha aqui de tração 4 x 4… só o mar aqui era o mesmo.
GERENTE: A barraca tem um site (que não divulgaremos devido à falta de ética supracitada), se o senhor nos der permissão para colocar lá…
Falcão: Para o seu site eu tiro uma foto até nu…
(Risada geral do público presente)
Falcão: Mas então… Continuando nossa conversa.
NRDR: Falcão, você fez uma paródia em português do clássico rock inglês Another Brick in the Wall, chamada Amolde o gato na parede, entretanto não foi autorizado pela banda a gravar. Toda vez que ouço esta história, morro de rir. Você falou que por conta disso, também não deixaria o Pink Floyd gravar nenhuma música sua, mas diga aí, se eles fossem gravar uma música sua, qual você acha que eles iam gravar?
Falcão: Rapaz, eu não quero nem saber… só sei que as que eles escolherem, eu não deixo. Acabou!! Eu já to chateado… mas não é com a banda toda não, só com aquele Rogério Aquático lá, o Roger Waters.
(Riso geral descontrolado do público presente)
Falcão: Esse cara que é o corno. Eu cheguei a escrever uma carta pra ele, cara. Eu mandei uma carta pro cara. Quando eu soube… Nós gravamos a música, já tava incluída no disco e a gravadora na época era a BMG foi tentar desenrolar os direitos autorais e disseram que não podia. “Não, não pode não porque o Pink Floyd não deixa”.
NRDR: Então você tentou?
Falcão: Nós tentamos. E aí eu conhecia um cara que era amigo do vizinho que morava em frente da casa duma rapariga do Gilberto Gil que era amigo do Sting que era amigo do Rogério Aquático. Aí peguei, escrevi uma carta, explicando como era minha versão, que era uma brincadeira e tudo, uma cantiga de roda e tal, mandamos através do Sting, que ele vem aqui tomar aqueles negócio do chá de zabumba aí, aquele chá do Santo Daime, sempre na Bahia. Daí ele levou a carta e o cara disse que não. Aí pronto, eu me aporrinhei e não deixo ele gravar nenhuma música minha. Tem gravação em shows e tal. Mas na hora que Rogério morrer, eu gravo.
NRDR: Quando vim há dois anos em Fortaleza, tivemos o prazer de comprar sua obra Leruaite. Já tem outro livro aí pra sair?
Falcão: Rapaz, eu tô com muita preguiça. Eu tenho uns 4 livros, assim, começados mas não consigo terminar por falta de coragem mesmo. Mas esse ano de 2008 eu devo lançar alguma coisa aí. Inclusive um livro assim, o contrário de Paulo Coelho, auto-lascação. O cabra lê e se lasca todinho. Para acabar logo de se arrombar.
NRDR: Você falou da banda lá, Mungo Jerry??? Como é??
Falcão: É uma banda que é americana ou inglesa. Eles cantam uma música que vocês devem conhecer, rapaz: “In the summertime”. (Falcão começa a batucar na mesa e canta) “In the summertime, paranranranranran… papapapa, papapapa…
NRDR: Ah sim…
Falcão: Eu queria verter essa música para o português, mas antes eu queria falar com eles pra num dar a mesma coisa que deu com o Pink Floyd. A mesma confusão.
NRDR: O que mais te influencia?? Sua formação musical vem da onde??
Falcão: É mais fácil ser chamado deformação musical. Na verdade, cara, tudo que eu acho interessante nessa linha da inteligência, misturada com criatividade, com o nonsense, com a irreverência eu bebi nessa fonte toda. Eu comecei com os clássicos do rock quando era menino, tipo Bob Dylan e Frank Zappa, e depois os brasileiros Raul Seixas e Zé Ramalho. Zé Ramalho eu acho um grande compositor. E daí que venho essa onda toda e também tem a mistura de tudo que eu leio. Eu lia bula de remédio. Meu pai era farmacêutico e eu lia as caixas dos remédios tudinho, as bulas, lia revistas velhas antigas. Meu pai era um dos únicos cara do interior do Ceará que tinha assinatura daquelas Revistas Seleções, isso na década de 60 era a única coisa que chegava lá para ler. E eu lia aquilo tudo. Essa bagagem toda aí misturada com uma fuleragem nata, vai embora…
NRDR: Você tem o hábito de ouvir música diariamente em casa ou no carro?? CDs ou algo assim??
Falcão: Principalmente em carro, rádio. Gosto muito de ouvir rádio. Rádio AM. Essa que é a rádio. E gosto muito de ouvir vinil. Eu tenho uma radiola é que eu esqueci aqui de trazer pra vocês. É uma portátil daquelas de maletinha. Eu tenho uma coleçãozinha. Aqui em Fortaleza em ando muito assim nos bares com essa minha radiola de lado. Eu esqueci de trazer. Eu gosto de ouvir tudo. Eu ouvi uma frase de Luiz Gonzaga, quando eu era menino ainda, dizendo “Música, sendo boa, sendo ela evangélica, ou seja forró, ou seja funk, não importa o estilo.” Qualquer coisa dá pra ouvir.
NRDR: Uma coisa que eu notei no reveillon, é que você ganhou o público pelo bom desempenho de palco, mas me causou espanto as pessoas de Fortaleza não saberem suas letras.
Falcão: Ah, é difícil. Pra começo de conversa, meu disco é muito difícil de encontrar, principalmente aqui. Segundo, nenhuma rádio toca música minha aqui. E terceiro, fazia 5 anos que eu não fazia show aqui. Então, essas pessoas inclusive, aqui no Ceará, acham que eu sou humorista desses assim, um Zé Modesto, uma Raimundinha, sei lá… Se viu, o rapaz q veio aqui perguntou se eu nunca tinha vindo aqui, mas eu entendi o que ele tava querendo. È que viesse fazer um show de humor aqui. Mas as pessoas que me conhecem são as que vão garimpar mesmo… Nos outros lugares que eu vou, inclusive Brasília, Minas e Espírito Santo, o pessoal tudo mundo conhece tudo minha música, canta junto, mas aqui no Ceará não… É a história do santo de casa…
NRDR: E você se sente frustrado em relação a isso? Acha q falhou em algum momento? Problema da mídia?
Falcão: Não… acho q é uma mistura. Eu não me sinto frustrado nem acho ruim. Acho bom, seu fosse um grande ídolo aqui, ia ficar que nem a Xuxa, sem conseguir andar na rua. O Zezé de Camargo não anda, não vem pra uma barraca dessa assim. Então eu sou bastante conhecido e reconhecido aqui pelas pessoas que eu gostaria que me reconhecessem. São os caras que formam opinião. Os intelectuais, alguma parte da imprensa, as crianças. Esse pessoal gostando de mim, o resto to nem importando não. Mas, a culpa principal é da mídia mesmo, ficou essa história, não sei se vocês já sentiram isso na pele, mas qdo você ta começando e disponta com um certo talento (não, não sentimos na pele… falta talento) todo mundo gosta, mas na hora q você faz sucesso, todo mundo te abandona no lugar da onde você é. Aconteceu isso comigo aqui em Fortaleza, o pessoal me dava maior força, na hora q eu virei um nome nacional, o pessoal me esqueceu mas não acho ruim não, acho q faz parte.”
Falcão ameaçã com um garfo o engraçadinho que perguntou da Débora Secco.
Amanhã, a segunda parte da entrevista.
Colaboraram Muleca, Josi, Amanda e Well
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