Olá, meus caros colegas. É com imenso prazer que acrescento aqui no N.R.D.R alguma coisa que talvez interesse aos leitores. Este filme foi escolhido como tema da minha monografia de graduação como “jornalera”. Espero que gostem.
Amarelo Manga – Que amarelo é o amarelo manga?
É a cor do excesso, disse Cláudio Assis (autor do filme).
“Amarelo é a cor das mesas, dos bancos, dos cabos das peixeiras, da enxada e da estrovenga. Do carro de boi, das cangas, dos chapéus envelhecidos, da charque. Amarelo das doenças, das remelas dos olhos dos meninos, das feridas purulentas, dos escarros, das verminoses, das hepatites, das diarréias, dos dentes apodrecidos…”. Este trecho da crônica Tempo Amarelo, de Renato Carneiro Campos, resume bem a virulência e crueza do filme Amarelo Manga.
As histórias se passam no centro antigo de Recife, entre o Texas Hotel e o Bar Avenida, palco de uma trama ousada e provocativa. Levando à reflexão dos contrastes mais chocantes da sociedade brasileira, o filme quebra preconceitos há tempos estabelecidos quando, por exemplo, traça paralelos entre religião e libido, fé e dúvida, amor e traição. Percebe-se, então, a intenção do autor em mostrar o lado amarelo e podre desta manga.
Kika (Dira Paes), uma evangélica puritana é a mulher do açougueiro Wellington canibal (Chico Diaz) que tem um caso complicado com uma amante, a Dayse. Canibal se orgulha em descrever sua esposa, diz que na cama é fraquinha, mas como mulher é boa: é crente.No entanto existe a Dayse, essa sim é gostosa, a mulher que supre as carências de uma mulher sem graça. O açougueiro é amado sem saber por um gay, o Guguinha (Matheus Nachtergaele), cozinheiro do Hotel Texas. Um hóspede, o Isaac (Jonas Bloch) no mesmo hotel troca maconha por cadáveres que são desviados por um funcionário do Instituto Médico Legal, e que, por sua vez, fuzila em galpões abandonados. Vários desses personagens se encontram no Bar Avenida , dirigido por uma mulher durona, a Lígia (Leona Cavalli), que chama a atenção dos homens por sua postura e frieza. Parece puta, diz um freguês, mas não dá para ninguém. Lígia quer alguém que a mereça e não permite que ninguém se aproxime. O que mais me chama a atenção desse personagem (brilhantemente desenvolvido) é a necessidade que ela tem de ser olhada e por outro lado a qualidade desse olhar. Quando Isaac juntamente com seu companheiro chega ao Bar Avenida a câmera mostra lentamente Isaac encarando Lígia, quando se senta à mesa pergunta ao seu colega: “Quem é essa aí?”. Ele responde: “Essa mulher é muito doida: parece puta, mas aqui ninguém nunca comeu ela”. Isaac se sente atraído pelo desafio e faz uma aposta. No dia seguinte retorna ao bar e provoca Lígia: “Eu queria saber se todos os seus pêlos são dessa cor (loiro)?”. Ela reage mostrando sua vagina na cara do grosseirão, que fica perplexo.
Ainda existe a Dona Aurora, também hóspede do Texas Hotel, mulher solitária e gorda, que sofre com crises de asma protagoniza uma das cenas mais grotescas e depressivas do filme: ela se engasga com a farofa e, ao ser socorrida pelo padre, tem seus seios apalpados pelas mãos de uma igreja decadente e jogada às traças. Com a morte de Bianor, o dono do hotel, Dona Aurora relembra tempos passados em seu quarto, se deprime e com um aparelho de inalação tenta resgatar o ar que foge. Em seguida se masturba com o inalador. preparem-se a imagem é feia e tosca.
O filme é assim, riquíssimo em simbolismos, é o retrato do pessimismo. Igrejas jogadas ao relento, entregue aos cães, falsos moralismos, mostra um mundo cru, sem perspectivas.
Falô galera, um super beijo e até breve.
Daiane Ramone
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